quinta-feira, 31 de março de 2011

É preciso transcender-me

“Transcendência significa que podemos historicamente alterar as condições em que fomos formados. Ao termos consciência de que podemos mudar tais condições, perceberemos que dias melhores virão, se assim o desejarmos”.

Conheço essa teoria muito bem, pois em estudos sobre Filosofia sempre há um grande filósofo discutindo algo semelhante. Nos estudos religiosos também. Aliás, acho que todos nós sabemos isso desde crianças. Se há algo errado na vida, se há algum comportamento que precise ser modificado, basta querer mudar e agir com firmeza para que a mudança se efetive, que conseguirá!

A teoria é fantástica. O problema, porém, está na prática; está no dia a dia. De nada adianta querer fervorosamente estabelecer uma mudança e querer agir para mudar, porque, muitas vezes – talvez na maioria das vezes – não sabemos como agir para conseguir a mudança. Sabemos o que deve ser mudado, mas não sabemos como o fazer.

CONHECE-TE A TI MESMO.

Sei exatamente o que devo mudar em minha vida; sei exatamente quais são as atitudes que tomo, as reações que tenho, os comportamentos equivocados a que me habituo, enfim, as coisas que acontecem em minha vida que não estão a contento, ou seja, que não são profícuas, que não são satisfatórias, que me fazem sofrer e que, às vezes, fazem outros sofrerem também ou fazem outros se desagradarem de mim ou de minhas atitudes e reações. Conheço-me, portanto. Atingi o que Sócrates queria como um dos ideais do bem-viver: “Conhece-te a ti mesmo”. Conheço-me, Sócrates! Sei quem sou e como sou. Conheço minhas peculiaridades e minhas instabilidades. Consegui, Sócrates!

Mas, é daí que vem o problema. Conheço-me, sim, mas conheço-me como outro. Minha alteridade é intensa, pois me vejo outro; não me vejo como deveria ser, pois sou o que não sou; sou o que me faço ser com reações muitas vezes lesivas. Vejo-me, vez ou outra, desviando-me do que seria o ideal para o bem relacionar-me com os demais. Deparo-me comigo mesmo realizando pequenezes de espírito e desventuras nos relacionamentos de tal sorte que me desconheço. Não sou o que sou, e o que sou não me soa bem.

CONSCIÊNCIA DAS ATITUDES ADEQUADAS.

É preciso mudar-me. É preciso transcender-me, mas como o fazer? Eu sei, eu sei: basta-me tomar consciência das atitudes adequadas para que os problemas se dissipem por completo. Basta-me praticar o que a Filosofia Clínica preceitua: estudar o que os filósofos dizem acerca do bem-viver, analisar os problemas que me afligem e aplicar os ensinamentos no meu dia a dia constante e implacavelmente.

E é aí que está o problema mais uma vez: aplicar os ensinamentos no dia a dia constante e implacavelmente. Parar de fumar é fácil: basta não acender um cigarro. Parar de beber? Não leve o copo à boca. Emagrecer? Não coma! Esses problemas, porém, são resolvíveis com algo concreto: é só não realizar tal ação que o problema desaparece. É só aplicar os ensinamentos no dia a dia constante e implacavelmente: não pegue o cigarro nem o copo e coma saudavelmente.

Não me leve a mal por ter dito que é fácil parar de fumar ou de beber ou emagrecer, que não é tão fácil quanto eu disse! Eu apenas usei os exemplos como retórica. Apenas quis trabalhar com algo concreto para me fazer entender, e tanto os problemas apresentados quanto a solução deles são concretos. Diferentemente do que ocorre com os problemas que afligem a alma. Não há objeto; não há coisa. É o ser somente e a dificuldade que desafia a sua capacidade de solucionar entranhada, profundamente cravada, introduzida na alma. Sou eu e meus pensamentos. Sou eu e minhas atitudes. Sou eu e minhas reações. Sou só eu, então!

NÃO HÁ DO QUE FUGIR.

Não há do que me afastar nem do que fugir, porque o problema está cá dentro, mastigando, remastigando, ruminando, importunando, remoendo, molestando. Ele está aqui! Não está na geladeira, não está na padaria, não está no barzinho da esquina. Está cá dentro! Não é perceptível com os olhos nem com as mãos. Ninguém o escuta; ninguém sente o cheiro dele; ninguém sabe que ele está aqui, mas está. Estabeleceu-se; fixou-se.

Que ações constantes e implacáveis podem resolver os problemas da alma? Como impedir que as reações exaltadas – aquelas que surgem por si sós, sem que ninguém as procure nem as chame – se apresentem intempestivamente?

A solução continua sendo a prática da Filosofia Clínica; continua sendo o estudo dos ensinamentos dos grandes filósofos. Aqueles, porém, cujos problemas estão arraigados no mais recôndito de seu ser, têm muito mais dificuldade de dissipá-los. A solução pode demorar anos, décadas, ou nunca chegar. O que não posso, no entanto, é desistir! Eu vou continuar tentando...

Um comentário:

Antonio Félix disse...

Olá professor!
Sigo suas dicas todos os dias no site "GRAMÁTICA OLINE". Tenho muito a aprender com você, por isso, estou te seguindo. Tenho um blog "OLHOS DA MENTE" (http://historiadeuniaopi.blogspot.com/) onde escrevo meus textos literários, com alguns erros ortográficos. Gostaria muito que você visitasse o meu blog e tornar-te um seguidor, seria uma grande honra pra mim. Gostaria também que você matesse o contato comigo pelo meu e-mail: felekeche@hotmail.com para corrigir talvez meus erros presentes em nos textos que crio ou para me dar novas dicas da nossa língua. Muito obrigado e até mais!