quinta-feira, 31 de março de 2011
É preciso transcender-me
Conheço essa teoria muito bem, pois em estudos sobre Filosofia sempre há um grande filósofo discutindo algo semelhante. Nos estudos religiosos também. Aliás, acho que todos nós sabemos isso desde crianças. Se há algo errado na vida, se há algum comportamento que precise ser modificado, basta querer mudar e agir com firmeza para que a mudança se efetive, que conseguirá!
A teoria é fantástica. O problema, porém, está na prática; está no dia a dia. De nada adianta querer fervorosamente estabelecer uma mudança e querer agir para mudar, porque, muitas vezes – talvez na maioria das vezes – não sabemos como agir para conseguir a mudança. Sabemos o que deve ser mudado, mas não sabemos como o fazer.
CONHECE-TE A TI MESMO.
Sei exatamente o que devo mudar em minha vida; sei exatamente quais são as atitudes que tomo, as reações que tenho, os comportamentos equivocados a que me habituo, enfim, as coisas que acontecem em minha vida que não estão a contento, ou seja, que não são profícuas, que não são satisfatórias, que me fazem sofrer e que, às vezes, fazem outros sofrerem também ou fazem outros se desagradarem de mim ou de minhas atitudes e reações. Conheço-me, portanto. Atingi o que Sócrates queria como um dos ideais do bem-viver: “Conhece-te a ti mesmo”. Conheço-me, Sócrates! Sei quem sou e como sou. Conheço minhas peculiaridades e minhas instabilidades. Consegui, Sócrates!
Mas, é daí que vem o problema. Conheço-me, sim, mas conheço-me como outro. Minha alteridade é intensa, pois me vejo outro; não me vejo como deveria ser, pois sou o que não sou; sou o que me faço ser com reações muitas vezes lesivas. Vejo-me, vez ou outra, desviando-me do que seria o ideal para o bem relacionar-me com os demais. Deparo-me comigo mesmo realizando pequenezes de espírito e desventuras nos relacionamentos de tal sorte que me desconheço. Não sou o que sou, e o que sou não me soa bem.
CONSCIÊNCIA DAS ATITUDES ADEQUADAS.
É preciso mudar-me. É preciso transcender-me, mas como o fazer? Eu sei, eu sei: basta-me tomar consciência das atitudes adequadas para que os problemas se dissipem por completo. Basta-me praticar o que a Filosofia Clínica preceitua: estudar o que os filósofos dizem acerca do bem-viver, analisar os problemas que me afligem e aplicar os ensinamentos no meu dia a dia constante e implacavelmente.
E é aí que está o problema mais uma vez: aplicar os ensinamentos no dia a dia constante e implacavelmente. Parar de fumar é fácil: basta não acender um cigarro. Parar de beber? Não leve o copo à boca. Emagrecer? Não coma! Esses problemas, porém, são resolvíveis com algo concreto: é só não realizar tal ação que o problema desaparece. É só aplicar os ensinamentos no dia a dia constante e implacavelmente: não pegue o cigarro nem o copo e coma saudavelmente.
Não me leve a mal por ter dito que é fácil parar de fumar ou de beber ou emagrecer, que não é tão fácil quanto eu disse! Eu apenas usei os exemplos como retórica. Apenas quis trabalhar com algo concreto para me fazer entender, e tanto os problemas apresentados quanto a solução deles são concretos. Diferentemente do que ocorre com os problemas que afligem a alma. Não há objeto; não há coisa. É o ser somente e a dificuldade que desafia a sua capacidade de solucionar entranhada, profundamente cravada, introduzida na alma. Sou eu e meus pensamentos. Sou eu e minhas atitudes. Sou eu e minhas reações. Sou só eu, então!
NÃO HÁ DO QUE FUGIR.
Não há do que me afastar nem do que fugir, porque o problema está cá dentro, mastigando, remastigando, ruminando, importunando, remoendo, molestando. Ele está aqui! Não está na geladeira, não está na padaria, não está no barzinho da esquina. Está cá dentro! Não é perceptível com os olhos nem com as mãos. Ninguém o escuta; ninguém sente o cheiro dele; ninguém sabe que ele está aqui, mas está. Estabeleceu-se; fixou-se.
Que ações constantes e implacáveis podem resolver os problemas da alma? Como impedir que as reações exaltadas – aquelas que surgem por si sós, sem que ninguém as procure nem as chame – se apresentem intempestivamente?
A solução continua sendo a prática da Filosofia Clínica; continua sendo o estudo dos ensinamentos dos grandes filósofos. Aqueles, porém, cujos problemas estão arraigados no mais recôndito de seu ser, têm muito mais dificuldade de dissipá-los. A solução pode demorar anos, décadas, ou nunca chegar. O que não posso, no entanto, é desistir! Eu vou continuar tentando...
sábado, 26 de março de 2011
O exemplo japonês
O vocábulo admiração tem vários sentidos; tanto pode significar encantamento, sentimento ou atitude de respeito, de apreciação, quanto espanto diante de algo que não se imagina ou espera.
Hoje, estamos admirados, no sentido de espanto, diante de uma dificuldade sem igual: um maremoto de proporções inimagináveis arrasou parte do Japão, matando milhares de pessoas, deixando outros milhares de desaparecidos e centenas de milhares de desabrigados, além do grande risco que o país corre de uma gravíssima contaminação do ar, da água e de alimentos.
PERTURBADO E ADMIRADO.
Qualquer ser humano sensível, propenso a participar das dores alheias, tem estado perturbado e admirado com tamanha catástrofe. É um momento primordial para filosofar sobre a nossa existência e sobre a Natureza, essa força descomunal que nos nutre, mas que também destrói.
Comecemos a filosofar pela admiração que tal tragédia nos causou: o espanto diante desse acontecimento sem igual. O que podemos fazer? Acredito que devamos fortalecer nosso espírito para enfrentarmos as frustrações e as decepções que se nos apresentam no dia a dia. Tal fortalecimento conseguimos, além de por meio da religiosidade, também mediante a análise do comportamento exemplar para que, pelo exemplo, aprendamos a viver melhor.
COMPORTAMENTO EXEMPLAR
E um comportamento exemplar é o que os japoneses demonstraram para nós, brasileiros e cia. Aqui, por nossas plagas, por nossos lugares, quando há uma tragédia, como os deslizamentos de terra nos morros fluminenses, ou de outra região brasileira, ou quando ocorre uma enchente trágica ou uma tempestade fulminante, ou ainda um vendaval destruidor, não é raro – aliás, chega a ser comum – alguns de nossos conterrâneos serem pegos desviando mantimentos, roupas e água, que deveriam ser encaminhados às vítimas, ou saqueando lojas, mercearias e supermercados. Até um soldado, que lá estava com o dever de distribuir as doações entre os necessitados, foi flagrado, em Santa Catarina, roubando um sapato. Lá, no Japão, segundo as reportagens apresentadas na televisão, nenhum saque, nenhum roubo...
Que diferenças há entre nós e eles? O caráter dos japoneses é mais lapidado que o do cidadão ocidental, em especial os da América Latina? A tradição milenar japonesa é a responsável pelo comedimento que se apresenta em seu comportamento? A colonização de exploração implacável realizada por portugueses e espanhóis aqui em nossas terras forjou um caráter de ‘piratas’, um caráter de pilhagem, no qual o que interessa é apoderar-se de bens e de riquezas, não importando a quem eles pertençam?
LEVAR VANTAGEM.
Logo após a Copa do Mundo de futebol de 1970, um dos maiores jogadores daquela vitoriosa seleção foi pivô de uma grande polêmica, que até hoje ecoa: Gérson participou de uma propaganda de cigarro, na qual ele aparecia fumando e dizendo uma frase mais ou menos assim: “Para quem gosta de levar vantagem”. Naquela época, ninguém percebeu o quanto essa frase nos identificava como a nação do jeitinho brasileiro. Isso, para os cidadãos daquele tempo, parecia ser um charme a mais, que os outros – europeus, americanos, asiáticos e africanos – não tinham.
Na realidade, porém, escancara uma falha de caráter gigantesca que predomina por aqui: o brasileiro quer levar vantagem em tudo o que faz. A humildade anda longe de nossos lares – sem querer generalizar, pois sei que em sua casa, leitor, como na minha, há o exemplo da humildade, mas, de um modo geral, o que constatamos é que o substantivo que comanda o vocabulário por aqui é “vantagem”, e não “humildade”.
Temos de aprender com os japoneses a respeitar o que é alheio – novamente não quero generalizar; não quero afirmar que no Japão não haja roubos nem falcatruas; isso existe em qualquer lugar do mundo. Mas temos de reter em nossa mente aquelas imagens dos flagelados nipônicos respeitosamente enfrentando filas para tentar obter alimento e água. Temos de ensinar os jovens a se condoerem dos que sofrem e a agirem de forma ética e civilizada. Temos de suscitar uma nova característica de nosso jeitinho: dar um jeitinho de ajudar os outros que necessitam de coisas e de afeto, sem esperar outra recompensa que não seja a alegria da consciência de estar cumprindo um dever.
sábado, 12 de março de 2011
Sílabas poéticas e rimas: a preocupação com a estrutura de um poema
A começar pelas rimas. É bastante comum os poetas escolherem palavras que se apresentam no final de cada verso rimando entre si, ou seja, ocorre a repetição de sons iguais ou similares, em dois ou mais versos. Observe este poema de Fernando Pessoa, que ele denominou de “Autopsicografia”:
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda,
que se chama coração
Observe que o primeiro verso termina com a palavra “fingidor” e o terceiro, com a palavra “dor”. É a primeira rima do poema; chamamo-la de A.
A segunda repetição de sons iguais ocorre nos versos 2 e 4: “completamente” e “sente”. Chamamo-la de B.
A terceira rima é “escreve” e “teve”; é a rima C. Observe, porém, que essas duas palavras não formam uma repetição perfeita de sons, mas sim há sons similares: a mesma vogal com sons diferentes. Vale como rima da mesma maneira.
Quarta rima: “bem” e “tem”: D.
Quinta rima: “roda” e “corda”: E.
Sexta rima: “razão” e “coração”: F.
O esquema de rimas desse poema é, portanto, ABAB CDCD EFEF; as rimas são, portanto, alternadas.
Vejamos, agora, o que sucede com as sílabas de cada verso. Contar sílabas de versos é diferente de contar sílabas de um texto qualquer. Há duas exigências:
1- Conta-se somente até a última sílaba tônica;
2- Quando uma palavra terminar em vogal átona e a palavra seguinte se iniciar por vogal, ambas são contadas como participantes da mesma sílaba poética. Vejamos como isso ocorre:
1º verso: O poeta é um fingidor
As sílabas dessas palavras são as seguintes: o-po-e-ta-é-um-fin-gi-dor.
As sílabas poéticas, porém, são diferentes: conta-se até a última sílaba tônica: “dor”; a palavra “poeta” termina em vogal átona, e a seguinte se inicia por vogal: “é”, e há outra vogal imediatamente após: “um”; são três vogais subsequentes. As três, então, pertencem a uma sílaba só. Assim ficam as sílabas poéticas: o-po-e-taéum-fin-gi-dor. São sete sílabas poéticas.
2º verso: Finge tão completamente.
Conta-se até a última sílaba tônica: “men”: fin-ge-tão-com-ple-ta-men. Sete sílabas poéticas.
3º verso: Que chega a fingir que é dor.
Conta-se até a última sílaba tônica: “dor”. A palavra “chega” termina em vogal átona, e a próxima se inicia por vogal: “a”; a palavra “que” termina em vogal átona, e a próxima se inicia por vogal “é”: que-che-gaa-fin-gir-queé-dor. Sete sílabas poéticas.
4º verso: A dor que deveras sente.
Conta-se até a última sílaba tônica: “sen”: a-dor-que-de-ve-ras-sen. Sete sílabas poéticas.
E assim ocorre no poema todo: todos os versos têm sete sílabas poéticas.
Observe o último verso da terceira estrofe: “Mas só a que eles não têm”. As sílabas poéticas são as seguintes: mas-só-a-quee-les-não-tem. Por que “só” e “a” não ficam na mesma sílaba? Porque “só” termina em vogal tônica, não átona.
Em tempo: o ato de contar sílabas poéticas tem um nome especial: escansão.
Intertexto
Quando eu era jovem, as composições de Zé Ramalho eram o intertexto de minhas poesias: “Acho que os anos / irão se passar / Com aquela certeza / Que teremos no olho / Novamente a ideia / De sairmos do poço / Da garganta do fosso / Na voz de um cantador”. Fui muito influenciado por suas palavras durante vários anos. Depois, já adulto, tive outros intertextos: as poesias de Carlos Drummond de Andrade, de Cecília Meireles, de T. S. Eliot, de Fernando Pessoa, entre outros.
Acredito que todos que se arriscam a escrever, seja em prosa ou em versos, têm seus intertextos. É lógico que quem lê bastante, absorve as ideias dos textos lidos e, posteriormente, as transforma em ideias próprias. É como quando se lê uma notícia no jornal: quem a lê, absorve o teor dela. Mais tarde, ao comentar a notícia com alguém, aproveita algumas ideias do texto lido, transforma outras em ideias originais e produz o seu próprio texto, oral, adicionando, inclusive, opiniões que não constavam do texto lido. Isso é até natural. Também o é na literatura, nas artes plásticas, nas músicas, no teatro, nos textos jornalísticos, na vida em geral.
Por isso é importante a leitura. Por isso os adultos devem incentivar os jovens à leitura. Quem lê bastante e atentamente, pensa melhor e tem mais opção de opinião. Os intertextos ajudam a meditar no que se há de fazer, ajudam a refletir sobre a vida, a ponderar mais. Os jovens, desde o Fundamental I até a universidade, precisam aprender a produzir textos, sejam mentais, orais ou por escrito. Quanto maior o número de intertextos, mais facilidade eles terão para elaborar suas próprias produções, pois maior será a quantidade de influências que eles terão; maior, então, será o aproveitamento e a absorção.
Na maioria dos casos a influência é imperceptível. Pode-se notar uma semelhança de estilos entre os autores ou os textos, um certo ar de parecença, uma sensação de déjà vu (expressão francesa, cujo significado é ‘sensação de já ter visto ou presenciado algo que se está vendo ou presenciando pela primeira vez’). Muitas vezes, porém, a influência é percebida facilmente: basta ler o texto que já vem o intertexto à mente.
Um exemplo bastante famoso de influência é poema de Casimiro de Abreu, escrito em Lisboa, em 1857, cujo intertexto é o de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em 1843. Ambos têm o mesmo nome: Canção do Exílio. Gonçalves Dias escreveu o seguinte: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá; / As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá (...) Minha terra tem primores, / Que tais não encontro eu cá; / Em cismar – sozinho, à noite / Mais prazer encontro eu lá”. Casimiro de Abreu, isto: “Se eu tenho de morrer na flor dos anos, / Meu Deus! não seja já; / Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, / Cantar o sabiá! (...) O país estrangeiro mais belezas / Do que a pátria, não tem”. Não há como ler este sem se lembrar daquele. Um intertexto do outro.
Esse exemplo apresentado denota o que chamamos na teoria literária de paráfrase, que é o desenvolvimento de um texto a partir de outro, conservando-se as ideias originais deste. Há, porém, outro tipo de influência, de aproveitamento, cujo autor intenciona não somente desenvolver o seu texto, conservando as mesmas ideias de outrem, mas aplicar um tom jocoso, engraçado. A sua intenção é provocar o riso, é ser irônico, sarcástico às vezes. Dá-se o nome a isso de paródia.
Um dos grandes parodiadores que houve em nossa literatura, no início do séc. XX, foi Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, que usava o pseudônimo de Juó Bananere. Ele escrevia em jornais da época, usando um verdadeiro dialeto ítalo-paulista, denominado de português macarrônico. Recriava as mais famosas poesias brasileiras da época, ironizando os costumes e a política brasileira. Talvez a mais famosa seja a paródia de “Lembranças de morrer”, de Álvares de Azevedo, que tem os seguintes versos: “Eu deixo a vida como deixa o tédio do deserto o poento caminheiro – Como as horas de um longo pesadelo, que se desfaz ao dobre de um sineiro”. Bananere escreveu assim: “io dexo o vita come um tirburero, chi dexa as ruas sê cavá frigueiz; come um pobri d’um indisgraziato, chi giá ando na Centrale arguna veiz (...) só levo una sodade unicamente: é du chopigno lá du Bar Baró”. ('tirburero'é tilbureiro, o mesmo que cocheiro)
Isto também é importante aos jovens: aprender a brincar um pouco com as coisas ‘sérias’. Parodiar a sisudez da vida é interessante até para se desestressar um pouco. Tente você também.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
texto elegante tem de ser texto bonito?
Na década de 1980, ganhou corpo no Brasil a teoria de que não era necessário o estudo da Língua Portuguesa. Com isso, as regras gramaticais passaram a ser ignoradas, e os exames vestibulares deixaram de incluir em suas provas questões sobre Gramática. As aulas de Português se transformaram em aulas de leitura de texto, de conhecimento de vocabulário e de execução de testes que supostamente continham conteúdo gramatical.
LATIM É ANÁLISE SINTÁTICA
Um famoso autor de livros infantis brasileiro, num almoço em Londrina, disse-me, inclusive, julgar desnecessário ensinar Gramática aos jovens; que é um absurdo ensinar análise sintática, com seus sujeitos e objetos; que o ideal seria ensinar Latim. O problema é que ele se esqueceu de que o estudo do Latim é análise sintática pura. Escrevem-se as palavras em Latim de acordo com sua função sintática. Por exemplo, a palavra senhor se escreverá dominus, domini, dominórum, domino, dominis, dominum, dominos ou domine, todas tendo o mesmo significado — senhor — dependendo da função sintática que exercer na frase e de estar no singular ou no plural. Se o substantivo senhor exercer a função de sujeito de um verbo em Português, em Latim se escreverá dominus para o senhor e domini para os senhores; se for complemento de verbo que não exige preposição: dominum para o senhor e dominos para os senhores; se for complemento de verbo que exige a preposição a: domino para ao senhor e dominis para aos senhores. Ou seja, para saber Latim, há de se estudar sintaxe profundamente.
Os jovens foram submetidos a testes científicos que denomino de “achologia aplicada”: alguns estudiosos julgaram, por conta própria, desnecessária a Gramática, empreenderam uma campanha intensa contra ela e conseguiram convencer a maioria de que ela deveria ser praticamente eliminada das escolas. Por isso, os cursos em que o estudo gramatical deveria ser constante, como em Direito e Jornalismo, não passam do básico, do Português Instrumental; nem no curso de Letras se trabalha a Gramática Normativa! E o resultado são jovens e adultos que não sabem escrever, que não conseguem entender um texto um pouco mais complexo e que não sabem se comunicar adequadamente.
PROCESSO DE DESARRANJO DA LÍNGUA
Não pretendo aqui desqualificar profissional algum, pois acredito que sejam vítimas desse processo de desarranjo da Língua Portuguesa no Brasil. O que se deve fazer, agora, é tentar reconstruir nosso idioma para que ele seja mais respeitado. É aproveitar essa onda formada pelo Acordo Ortográfico em que todos passaram a se interessar mais por estudar Gramática (ao menos a Ortografia), estimular-se e estimular os demais a pesquisar mais antes de se comunicar, principalmente por escrito. É valorizar a pesquisa e o estudo sistemáticos, mostrando, em especial aos jovens, que ninguém tem o dever de estudar, mas sim o direito de aprender.
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Já que falamos sobre o Acordo Ortográfico, deixo aqui algumas regras sobre o uso do hífen:
Se o primeiro segmento de uma palavra for um elemento que não se usa sozinho em uma frase, como auto, semi, supra, pseudo, infra, neo, intra, contra, ultra, ante, anti, sobre, arqui, super, hiper, inter, sob, sub, dentre muitos outros, haverá o seguinte:
- Se o primeiro segmento terminar em vogal, usa-se o hífen somente quando o segundo segmento se iniciar pela mesma vogal ou por H; se se iniciar por R ou por S, essas letras se duplicam: semi-inconsciente, infra-hepático, mas infraestrutura, autorretrato, semisselvagem, ultrassom, antirreumático.
- Se o primeiro segmento terminar em consoante, usa-se o hífen somente se o segundo segmento se iniciar pela mesma consoante, por H ou por R: sub-bibliotecário, super-realismo, sob-roda, sub-humano, mas supermercado, hipertensão, subgerente.
Exceções: os elementos co, re, pro (“o” fechado), pre (“e” fechado), des, in trans e an nunca têm hífen: coerdeiro, cooperar, reeleito, proótico, preencher, desumano, inábil, transexual, anistórico.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
A música nas aulas de Português
O professor deve pesquisar incessantemente, ouvindo todos os dias as músicas que emocionam seus alunos, ou mesmo aquelas que eles ouvem por ouvir, mas que não os emocionam; é o caso das músicas tocadas em rádio, a denominada, por Umberto Eco, música gastronômica, ou seja, música para engolir. Deve também ouvir as músicas de sua época e as músicas brasileiras universais, ou seja, deve ouvir todos os tipos de música para poder trabalhar com elas em sala de aula. Tem de procurar, em cada música, algum aspecto gramatical que possa aproveitar em sua aula, para enriquecer o conteúco dela.
A cada aula, deve procurar trabalhar com uma música diferente e, a cada ano, renovar o repertório para acompanhar os sucessos e, assim, tocar os alunos. Caso contrário, a música poderá atrapalhar o trabalho do professor, pois pode transformar-se, para os alunos, em mais um trabalho cansativo, maçante. Passará a ser interessante para os jovens quando o for para o professor. Se este pesquisar de fato, mostrará energia, vontade, entusiasmo, e aqueles se contaminarão e julgarão o trabalho edificante.
Peguemos, como exemplo, a música Eternas Ondas, de Zé Ramalho que diz Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas. Como ficaria a letra caso invertêssemos os termos voltarem e aquelas ondas? A maioria pensaria em responder: Quanto tempo temos antes daquelas ondas voltarem, não é mesmo? Pode até ser, mas não está adequada a frase, pois há inexistência de relação entre sujeito e preposição, ou seja, sujeito jamais pode ser encabeçado por preposição, e o termo aquelas ondas funciona como sujeito do verbo voltar, pois quem volta são as ondas. Quando isso ocorrer, ou seja, quando o sujeito for antecedido de preposição, eles não se aglutinam, por isso, o certo é Quanto tempo temos antes de aquelas ondas voltarem, e aproveito para explicar o uso do infinitivo flexionado: quando o sujeito de um verbo no infinitivo (verbo terminado em ar, er ou ir) estiver no plural e aparecer ao lado do verbo, este terá de ficar também no plural, ou seja, flexionado, por isso voltarem no plural. A tempo: sujeito é o elemento responsável pela ação, praticando-a ou sofrendo-a.
Em sala de aula é a mesma coisa. Deve-se ficar antenado no dia a dia, e, em cada música que ouvir, procurar algo para apresentar aos alunos. Eis alguns exemplos:
Malandragem, de Cazuza e Frejat:
O trecho Quem sabe eu ainda sou uma garotinha tem inadequação quanto ao uso do verbo ser: a expressão Quem sabe indica dúvida, hipótese; sou indica fato certo. A indicação de hipótese é feita por meio do tempo chamado presente do subjuntivo: que eu seja. O adequado, então, é Quem sabe eu ainda seja uma garotinha
Equalize, de Pitty:
O trecho Quando tenta me convencer que eu só fiquei aqui... tem inadequação de regência verbal: o verbo convencer exige a preposição de (Quem convence, convence alguém de algo); o adequado, então, é Quando tenta me convencer de que eu só fiquei aqui...
Também o trecho Porque você sabe o que eu gosto, tem inadequação de regência verbal com pronome relativo: o verbo gostar também exige a preposição de, que deve ser colocada antes do pronome relativo que, por isso o adequado é Voce sabe do que gosto.
Me Chama, de Lobão:
Os versos Aonde está você / me telefona / me chama, me chama, me chama têm três inadequações gramaticais:
1) Uso de onde, aonde e donde: onde significa em algum lugar; aonde, a algum lugar e donde, de algum lugar. Como Lobão usa o verbo estar, e quem está, está em algum lugar, o adequado é Onde está você.
2) Não se deve iniciar frase com pronome oblíquo átono (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes). O adequado, então é telefona-me / chama-me, chama-me, chama-me.
3) Ordem, pedido ou conselho, por meio de verbo, fazem-se da seguinte maneira: se o interlocutor for tratado pelo pronome tu, coloca-se o verbo diante da seguinte frase: Todos os dias tu... e retira-se a letra s do verbo:
Todos os dias tu me telefonas; retira-se a letra s: telefona-me tu.
Todos os dias tu me chamas; retira-se a letra s: chama-me tu.
Se o interlocutor for tratado pelo pronome você, coloca-se o verbo diante da seguinte frase: Espero que você..., sem retirar letra alguma:
Espero que você me telefone: telefone-me você;
Espero que você me chame: chame-me você.
Os versos de Lobão, então, deveriam ser assim escritos para adequá-los ao padrão culto da língua:
Onde está você / telefone-me / chame-me, chame-me, chame-me. Horrível, convenhamos.
Tenho sede, de Dominguinhos e Anastácia, gravada por Gilberto Gil:
Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes:
Eu sei que te vou amar.
Eu sei que vou amar-te. Mais uma vez, horríveis, não é mesmo?
Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas e Paulo Coelho:
Eu nasci há dez mil anos.
Eu nasci dez mil anos atrás.
Roda Viva, de Chico Buarque de Holanda:
Qualquer música serve. Todas são escritas em Língua Portuguesa; todas têm substantivos (abstratos ou concretos), adjetivos (restritivos ou explicativos), pronomes, verbos, orações subordinadas e coordenadas. Todas têm adequações gramaticais; algumas têm inadequações. O cuidado que temos de tomar é não usar apenas músicas com inadequações, para não nos transformarmos em professores chatos de português que só se preocupam com erros alheios.
Pode-se trabalhar também com poesias, para não ficar restrito à música:
Vinícius (Soneto de Fidelidade), explicando o uso do pronome mesmo e a inadequação de posto que como locução causal, pois essa expressão indica concessão, tendo o mesmo valor de apesar de que.
Augusto dos Anjos (Vês, ninguém assistiu ao formidável enterro de tua última quimera), explicando o adequado uso do verbo assistir: quem assiste, assiste a algo, por isso a poesia está adequada.
Cecília Meireles (Eu canto, porque o instante existe), explicando os usos do porquê.
Qualquer poesia também serve. Qualquer notícia de jornal; qualquer artigo de revista. Podemos transformar tudo em assunto para nossas aulas de Português. O segredo é ser curioso, é ter vontade, é trocar informações com outros professores e com os alunos também. É bastante interessante levar uma aparelhagem de som para a sala de aula e apresentar músicas despretensiosamente (música erudita, por exemplo). Aos poucos, os alunos começarão a levar seus discos também. É aí que entra a sensiblidade do professor. Aí é o momento de ouvir a música que o aluno levou com atenção e usá-la como instrumento na aula, chamando a atenção para algum aspecto interessante, para alguma inadequação, etc.
Para isso tudo, há de haver vontade, pois é trabalhoso. Deve-se tomar o cuidado de não usar a música como o elemento mais importante da aula todos os dias, porque, assim, a novidade desaparece, e a música acaba sendo o aborrecimento dos alunos, em vez de se transformar na parte mais interessante.
Enfim, não existe um projeto para usar a música em sala de aula. O que deve existir é um professor Educador, que se preocupe com o desenvolvimento de seus alunos e de si próprio.
domingo, 7 de março de 2010
Estudar Literatura
Há algum tempo, um aluno me disse, revoltado, que não mais iria ler romance algum, pois ele havia lido os dez livros que foram temas do exame vestibular da UEL daquele ano e não havia acertado resposta alguma, e um amigo seu, que somente havia lido os resumos, acertou todas. A diferença entre a leitura realizada por ambos é que o jovem que leu os resumos estudou-os de fato, com a intenção de reter na memória as informações lá contidas, refletiu sobre o conteúdo dos resumos, pensou, enfim; e o que leu os romances, leu-os como se lesse um gibi, sem atenção, sem a preocupação de apreender coisa alguma. Leu para dormir, como dizem por aí. A leitura, para ele, nada representou. Em nenhum momento, talvez, tivesse ele pensado sobre as histórias, provavelmente nada tivesse refletido sobre os ensinamentos éticos, filosóficos, contidos nos romances. Leu-os simplesmente.
LEITURA OBRIGATÓRIA
O problema da leitura que nós, professores, impingimos a nossos alunos - e também as faculdades e universidades que aplicam os exames vestibulares - é que a escolha dos livros não é realizada pelos jovens, por isso a maioria deles não os lê com o mesmo afinco como leem os livros que contam a história de Harry Potter ou os que compõem a série Crepúsculo. A diferença é que, quando começamos a ler um livro e dele não gostamos, deixamo-lo de lado e buscamos outro que nos agrade. Já a leitura obrigatória da escola não dá essa oportunidade aos jovens: gostem ou não dos livros, eles têm de os ler. É tarefa; é trabalho.
A solução, então, estaria na leitura livre na escola? Cada aluno lê o livro que lhe interessa? Talvez sim; talvez seja essa a solução, mas, pensando melhor, talvez não seja essa a solução. Confuso, não? Reflitamos sobre isso, então:
Se o jovem tiver a liberdade de ler o livro que quiser, muito provavelmente escolherá aqueles que possivelmente lhe trarão deleite. Lerá, então, somente à procura de sensações prazerosas para alimentar a sua sensibilidade. Procurará o ‘sonho’. Lerá à busca de imagens, como se assistisse a um filme. A história é que lhe interessará. Deixará de lado as leituras ‘pesadas’, os livros espessos. Não lerá os clássicos da literatura mundial ou nacional. Não lerá Machado de Assis nem José de Alencar, não lerá poemas barrocos, árcades, parnasianos nem simbolistas. Não conhecerá o Surrealismo, o Dadaísmo, o Futurismo nem o Manifesto da Poesia Pau-Brasil. E é exatamente aí que está o problema, pois passará a ser um cidadão de pouca cultura.
REFLEXÃO ÉTICO-FILOSÓFICA
Além da cultura escassa, o outro problema se situa na falta de reflexão ético-filosófica que caracteriza o cidadão que não lê os clássicos. Os autores dos clássicos da literatura mundial eram pessoas com uma capacidade de reflexão magnífica, por isso conseguiam entremear em seus romances a história em si e conflitos psicológicos de suas personagens. Quem os lê criticamente, não somente se emociona com a beleza da história, não somente alimenta sua imaginação com a fantasia contida nos romances, mas, principalmente, aprende a pensar sobre a vida, sobre os relacionamentos, sobre o mundo.
Ler os clássicos é mais que ‘ler um livro’. O segredo está em encarar as personagens e as histórias vividas por elas como ensinamentos para a nossa própria vida, analisando o que elas fazem de positivo ou de negativo e tomando isso como exemplo a ser seguido ou a ser descartado. Ler os clássicos, então, é aprender a viver melhor. Por isso não se deve desconsiderar a leitura dos grandes nomes da Literatura mundial. Por isso não se deve somente ler os livros ‘gostosos de ler’. Deve-se ler para aprimorar a capacidade de se transformar num cidadão analítico e crítico e para aprender a ter pensamentos de mais qualidade. Leiamos, portanto, os clássicos e orientemos os jovens para que também os leiam!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Benefícios da leitura
Observe que ocorre um ciclo: quem tem cultura se comunica bem, e quem se comunica bem tem mais cultura, uma vez que é por meio da interação entre os indivíduos que se cria a cultura, e que, quanto mais cultura tiver o cidadão, mais ele interagirá adequadamente com seus semelhantes. Ninguém é sujeito na solidão, ou seja, é a partir dos relacionamentos que nos tornamos agentes de nossa própria cidadania. Há, no dia a dia, constante troca de experiências e de informações entre os membros da sociedade, o que nos abastece espiritual e intelectualmente. Cultura, portanto, não é algo estanque; não é algo que se compra ou que se adquire gratuitamente. Cultura é o que acrescentamos aos demais seres humanos; acrescentar algo aos demais seres humanos no sentido de ajudá-los a desenvolver-se intelectualmente, a fim de que possam, por conta própria, alcançar a aprendizagem. Tudo o que for edificante, portanto, deve ser considerado cultural.
A leitura de uma obra literária deve ocorrer de acordo com esse ponto de vista. Deve-se ler um livro buscando a comunicação com o seu autor. Este — o autor — é o emissor do contexto; o leitor é o receptor. Não se pode ser, porém, um receptor passivo, mas, sim, indagativo, inquiridor, sempre buscando informações instrutivas em cada linha da obra. Há filosofia onde nem se imagina encontrá-la. Basta ler as frases com a alma, com o espírito, para examinar o conteúdo de cada parágrafo por meio do entendimento, por meio da razão.
ANÁLISE PSICOLÓGICA
O leitor é elemento agente; é ele quem dá vida às personagens, participando com elas da história e realizando a análise psicológica de cada uma delas. Se tal ação não for efetivada, a leitura será inútil, ou um mero passatempo. Deve-se ler com a intenção de se tirarem ensinamentos para a própria vida. Os livros são verdadeiros consultórios de psicanálise. Por meio da análise do comportamento de cada personagem, pode-se aprender a viver relacionamentos mais harmoniosos consigo mesmo e com os demais. Seria como se as personagens fizessem parte de nosso mundo, e com elas aprendêssemos a viver e a conviver, como ocorre em nossa vida, mas com a vantagem de podermos analisar friamente as ocorrências, sem a paixão que caracteriza nossos relacionamentos.
Aristóteles, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos, dizia que a diferença entre o filósofo e o cidadão comum é que o filósofo pensa, e o cidadão comum deixa que os pensamentos passem por sua mente aleatoriamente. É preciso, pois, aprender a pensar sistematicamente. E isso só se consegue com muito treinamento. Uma das maiores oportunidades que há para esse treino está no jornal, que, diariamente, nos apresenta textos de diversos gêneros textuais. A partir da leitura desses textos, além de ocorrer o aumento do conhecimento de mundo, há também a oportunidade de o cidadão incrementar seu conjunto de bens intelectuais.
Boa leitura é leitura edificante. Edificar é induzir à virtude. Essa deve ser a missão de todo cidadão educador – professores, jornalistas, pais e mães, dentre outros. Todos os adultos interessados em construir uma sociedade de fato devem preocupar-se com o “ensinar virtudes” às demais pessoas. Só ensina algo quem consegue se comunicar adequadamente; só aprende algo quem está preparado para interagir com os demais. Essa é a chave do sucesso: a comunicação.
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Um exemplo de leitura edificante é o livro O menino do pijama listrado, que se transformou em filme. É a visão de um menino alemão, filho do comandante do campo de concentração Auschwitz, acerca dos judeus que lá estavam à espera da morte. Ele conhece um menino que está do outro lado da cerca, com quem cria fortes laços afetivos. Ambos estão longe de casa, um por ser filho do comandante, outro por ser judeu. Por ingenuidade própria da idade, desconhecem a realidade um do outro e se envolvem numa aventura sem volta.
Nada mais contarei para não estragar sua leitura. Ah! Leia o livro antes de assistir ao filme!
domingo, 20 de dezembro de 2009
Eu sou Educador?
Essa pergunta deveria ser efetivada por todos os jovens e adultos em vários momentos da vida. Aliás, a pergunta deveria ser esta: Eu sou BOM Educador?
Observe que escrevi Educador com letra maiúscula apesar de este vocábulo ser um substantivo comum, e não próprio; Fiz isso para caracterizar a importância do sentido dessa palavra na vida de todos os que convivem com crianças, ou mesmo daqueles que convivem com qualquer tipo de pessoa — todos nós, então — não importando a idade.
EDUCADORES, COM LETRA MAIÚSCULA
Temos de agir como Educadores com letra maiúscula, ou seja, Educadores de fato, preocupados com o desenvolvimento psíquico das pessoas com as quais convivemos e, logicamente, com o nosso próprio desenvolvimento psíquico. “Educar” significa “dar a alguém todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade”. Já “personalidade” é o aspecto visível que, segundo a percepção alheia, compõe o caráter individual e moral de uma pessoa. O bom Educador, então, é aquele que se preocupa com o desenvolvimento dos traços psicológicos e morais dos demais.
INFLUÊNCIA POSITIVA
As nossas ações no dia a dia devem ocorrer de tal maneira que influenciem positivamente o comportamento daqueles que participam de nossa vida, no sentido de exercer uma ação psicológica favorável, ou seja, temos de estar atentos a tudo aquilo que realizam as pessoas que participam de nossa intimidade para poder ajudá-las a desenvolver-se e também para nós mesmos aprendermos, com as atitudes delas, a nos desenvolver, afinal educar-se é procurar atingir um alto grau de desenvolvimento ― intelectual, emocional e espiritual; é cultivar-se; é aperfeiçoar-se.
O Bom Educador começa seu trabalho por si próprio. É impossível tentar educar alguém se não se educar a si mesmo. O Bom Educador usa sua autoridade para influenciar positivamente a maneira de proceder das pessoas com as quais convive sem ser autoritário, estabelecendo os limites necessários ao bom relacionamento com a intenção de orientar o educando, e não de provar quem é que manda na relação. O mais importante é formar ― no sentido de dar e receber ensinamentos ― seguindo os quatro pilares da Unesco para concretizar a aprendizagem: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
EMOÇÕES AUTÊNTICAS
O jovem somente se sentirá completo, sem necessitar de coisas externas para preencher o ‘vazio’ da vida — até porque nem haverá esse vazio —, quando souber reconhecer suas emoções como autênticas, quando não tiver medo de enfrentá-las ou de manifestá-las aos outros e quando obtiver êxito em seus relacionamentos, sem sofrer e sem provocar sofrimentos. Isso só será alcançado se houver afetividade em sua vida, se houver alguém que de fato afete favoravelmente a sua maneira de ser. Assim ele se sentirá realizado e dirá com firmeza: eu sou feliz e, se eu estou feliz, eu me relaciono melhor com as pessoas, eu me interesso mais pelos outros, eu aprendo com mais facilidade, eu realizo mais coisas e me realizo também!
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
A Pátria em calções e chuteiras

O cidadão inglês tradicional, que acompanha os passeios da Rainha da Inglaterra pela televisão, da mesma maneira que o cubano assistia aos discursos intermináveis de Fidel Castro, aprecia o turfe. Os britânicos têm até um cortejo de carruagens, do qual a Rainha participa, para dar início a um torneio de turfe. Aprecia também o futebol, tanto que as mais violentas torcidas do mundo são inglesas (Ué? Mas eles não apreciam o futebol?).
O estadunidense aprecia beisebol, basquete, vôlei, dentre outros. Aprecia também, mas com menos paixão, o futebol. Tanto que é um dos pouquíssimos esportes em que eles ainda não chegaram ao pódio mundial. Ainda não... O futebol só começou de verdade para eles quando Pelé jogou no New York Cosmos, por volta de 1976, 77. Estão chegando lá: já participaram de cinco copas depois disso. Serão campeões algum dia? Só o futuro nos dirá.
PAIXÃO PELO FUTEBOL
O cidadão brasileiro aprecia que tipo de esporte? Qual lota as arquibancadas? Que desporto é transmitido pela televisão quatro vezes por semana? É só mesmo o futebol! Até que se apreciam alguns outros esportes coletivos, como o basquete e o vôlei, mas a paixão que o futebol provoca no brasileiro é digna de tese de pós-doutorado. Principalmente neste ano de 2009, em que quatro times chegaram à última rodada do Campeonato Brasileiro com chances de se sagrar campeão: Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo. O Flamengo foi o vencedor, e o Palmeiras ficou em quinto.
É interessante essa paixão. Movimenta boa parte das conversas cotidianas dos homens brasileiros de todos os níveis socioeconômicos. O Presidente da República usa metáforas futebolísticas para decifrar seus pensamentos à população e quase transforma o país numa nação corintiana; Barrichello veste a camisa do seu time do coração, o mesmo do Presidente, antes de algumas corridas para dar sorte. Todos os grandes times têm torcedores pelo país todo. Há até a disputa para se saber qual a maior torcida do Brasil. Antes diziam ser a do Corinthians; hoje dizem ser a do Flamengo.
HERÓIS OU MERCENÁRIOS INCOMPETENTES
É interessante essa paixão que faz um país parar para assistir a uma partida de sua seleção principal. Em época de Copa do Mundo, então, tornamo-nos exímios técnicos de futebol, ora elogiando o oficial, ora pedindo sua saída. Se o escrete consegue a taça, os jogadores se transformam em heróis da nação; senão, viram mercenários covardes e incompetentes.
Um dos pontos mais interessantes dessa paixão é a fidelidade que temos ao time do nosso coração. Já se ouviu falar de homens que trocaram de esposas, de emprego, de amigos, de cidade, de país; até de sexo alguns trocaram, mas nunca se ouviu falar de um cidadão que tenha trocado de time! Conhece algum ex-palmeirense, que se tornou corintiano? Algum recifense que torcia pelo Náutico e passou a torcer pelo Sport? Gremista que virou colorado? Mengo que virou pó de arroz? Impossível!
FIEL ATÉ O ÚLTIMO SUSPIRO
O time, a gente o escolhe de pequeno e se mantém fiel a ele até o último suspiro. Pode até acontecer de o nosso time se dar mal em determinado campeonato e, somente naquele torneio, passarmos a torcer para que outro time se torne o campeão. É o caso, por exemplo, de torcedores do glorioso Santos Futebol Clube, bicampeão brasileiro e mundial e várias vezes campeão paulista, passarem a desejar em 2009 que o Flamengo seja o campeão para que seus rivais paulistas, Palmeiras e São Paulo, não o sejam. Não é uma troca, pois de time não se troca; é uma compensação ver os rivais mais próximos derrotados por um distante.
É. O Brasil é o país do futebol. É o país com o maior número de torcedores do mundo. É o país que mais exporta jogadores para a Europa; e agora também jogadoras. É o país cujos habitantes se sentem jogadores e técnicos ao mesmo tempo. É o país cujos habitantes se transformam em torcedores quando a Seleção enfrenta os inimigos (em futebol não há adversários; há inimigos) e convertem, como Nelson Rodrigues escreveu, “a pátria em calções e chuteiras dando rútilas botinadas em todas as direções”.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
A travesti gravou com o celular imagens de Ronaldo...
Segundo os dicionários Aurélio e Houaiss, travesti é um substantivo de dois gêneros, ou seja, existem as duas opções: o travesti e a travesti.
Isso não quer dizer, porém, que se possam usar as duas para um mesmo ser. Substantivo de dois gêneros é aquele que tem uma só forma para os dois gêneros (masculino e feminino), e em que o determinante (artigo, adjetivo, numeral...) da palavra denota o sexo do ser a que se refere. É um substantivo a ser usado, portanto, para homens ou para mulheres; se o ser for homem, usa-se o gênero masculino (o, um...); se for mulher, o feminino (a, uma...).
Embora as pessoas com quem Ronaldo se envolveu na trapalhada apresentassem nomes e roupas femininos, elas (as pessoas) eram homens; seus nomes femininos eram falsos. A Andrea é o André. Trata-se, portanto, do sexo masculino. O substantivo a ser usado, então, tem de ser do gênero masculino: O travesti.
Segundo os dicionários, o substantivo de dois gêneros travesti tem dois significados:
1- Indivíduo que, geralmente em espetáculos teatrais, se traja com roupas do sexo oposto.
2- Homossexual que se veste e que se conduz como se fosse do sexo oposto.
A frase apresentada, portanto, deve ser assim reescrita:
O travesti gravou com o celular imagens de Ronaldo...
Quando se usa, então, A travesti?
- Quando uma mulher se trajar com roupas de homem em um espetáculo teatral;
- Quando uma mulher homossexual, além de se vestir como homem, conduzir-se como tal.
Quer dar sua opinião? Mande-me um e-mail.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Palestra-mico
Cheguei à escola onde daria a palestra às 19h35. À frente do prédio estava a coordenadora, esbaforida, pois havia esquecido a chave do portão. Apresentei-me a ela e ao senhor que a acompanhava; conversamos um pouco, até que surgiu um carro veloz, do qual desceu uma senhora arredondada e um tanto corcunda — a diretora da escola — mais esbaforida que a coordenadora, correndo e gritando: “Tá aqui a chave!”, “Tá aqui a chave!”. Eram 19h40.
Entramos na escola. Passamos por um longo corredor, com várias portas de ambos os lados que dão acesso às salas de aula, até chegarmos à biblioteca — uma pequena sala de uns 20m2, que seria inaugurada naquela noite, em homenagem a um pequeno aluno que falecera havia algum tempo. Encaminhamo-nos ao pátio externo, onde aconteceria a palestra. Ficava ao lado do parquinho das crianças, onde todos os brinquedos — escorregador, labirinto, roda-roda (sei lá se os nomes são esses mesmos) — foram literalmente “embrulhados” pelas professoras com papel crepom para que ninguém os visse de fato. A escola preparara uma festa, pois inaugurariam também o parquinho naquela noite.
Aos poucos os convidados foram chegando e sentando-se nas cadeiras adrede preparadas — umas cento e dez cadeiras. Enquanto isso, preparei o meu material: instalei o lap top e o projetor e pendurei os fôlderes do Sistema Maxi. Estava pronto para começar. Fiquei um pouco preocupado, pois a tomada elétrica em que liguei a extensão ficava a uns 2m de altura; o fio, então, ficou pendurado, solto na parede, descendo até o chão. Da parede até a mesa em que estava o lap top havia uns 5m; o fio, também solto. Eram 19h55.
20h: a coordenadora pega o microfone — Vamos começar! Pensei cá comigo. Enganei-me; ela apenas pediu que os convidados saíssem pelos fundos do pátio para presenciarem a bênção do “Cristo” da escola pelo padre da cidade. Todos se levantam e se dirigem para onde ela havia indicado, passando sobre o fio — que estava solto! Eu, ao lado da mesa, pedia: “Cuidado com o fio. Cuidado com o fio”. Felizmente ninguém tropeçou nele. A diretora, depois que a maioria já havia passado, interveio, mastigando alguma coisa, dizendo que se enganaram: não era para sair pelos fundos, e sim pela frente. Todos voltam em um burburinho de reclamação. E eu, ao lado da mesa, mais uma vez desesperado: “Cuidado com o fio. Cuidado com o fio”. Ninguém tropeçou, felizmente.
Eu fiquei por ali mesmo, fingindo mexer em alguma coisa importante. Não tardou para a coordenadora e a diretora, novamente esbaforidas, voltarem correndo para me buscar a fim de que eu também participasse da solenidade. Acompanhei-as até a frente da escola, onde colocaram uma mesa que serviria de altar e onde estavam o padre e todos os convidados, tomando a calçada e toda a rua, esperando-me para começar uma missa — mas não seria apenas uma bênção? A diretora, já menos esbaforida e com algumas migalhas de algo parecido com pão no canto da boca, levou-me até o altar e entregou-me um turíbulo, pedindo que eu o segurasse para o padre — turíbulo, aliás, que não foi usado em momento algum. Começa a missa. O cameraman liga sua aparelhagem para filmar a solenidade, com um holofote imenso, direcionado ao padre e a mim.
A missa durou uns vinte minutos. É importante informar que a temperatura, naquela noite, estava em torno de 28 graus e que eu estava de terno e gravata. Aquela lâmpada sobre mim deve ter aumentado a temperatura para uns 32 graus. Eu me sentia derreter...
Terminada a missa, depois de eu ter espargido água benta na frente da escola a pedido da mastigadora diretora, chamaram-me para descerrar a fita inaugural da escola, que não estava sendo inaugurada; ela já funcionava há dois anos. Mais uma vez o holofote sobre mim. Finalmente entramos na escola. O padre foi espargindo água benta de sala em sala, até chegarmos à biblioteca. Adivinhem quem segurava o recipiente com a água benta para o padre: eu, logicamente.
Na biblioteca havia, em uma das paredes, uma fotografia do menino homenageado sob uma pequena cortina que seria aberta, simbolizando a inauguração. A sala ficou superlotada (e o holofote sobre mim; e eu de terno; aliás, só eu de terno; os demais de jeans e camisa de manga curta — uns e outros de bermudas...). A coordenadora chamou a família do menino, e a diretora, ainda com as migalhas no canto da boca, leu um discurso de aproximadamente quatro páginas. Ao término, uma das presentes puxa uma ave-maria. Acabaram rezando umas doze. Enfim inauguraram a biblioteca e convocaram todos para o pátio externo. Saí daquela salinha suando em bicas, passei pela cozinha, que era contígua à biblioteca, e pedi um copo d´água. Uma professora lavou um copo que estava embaixo da pia e me serviu água da torneira, já que, segundo ela, haviam esquecido os copos descartáveis e as jarras para colocar água.
20h50: uma professora começa a solenidade, dando boas-vindas a todos, dizendo: “Gostaria de agradecer a presença dos pais, das autoridades presentes” (Observe o vício, o chavão, pois a única autoridade presente era o vice-prefeito, que, por sinal, era pai de aluno; não estava lá, então, representando o prefeito, e sim como pai de aluno.) e avisando que, depois das solenidades, seria servido um coquetel, que já estava sobre as mesas do corredor, bem ao lado das cadeiras em que os pais se sentaram para assistir à palestra. Colocaram papel de embrulho sobre os pratos.
Os alunos da pré-escola foram chamados para apresentarem um esquete, acompanhados por uma aluna do Ensino Médio, que tocou algumas músicas em seu ‘teclado’.
21h05: a professora chama a coordenadora. Esta agradece novamente e apresenta os professores da escola, um a um, que sobem ao palco, também um a um, sob o aplauso da platéia. Eu também sou chamado para, enfim, começar a palestra. Quando subo ao palco, todos os professores me rodeiam e me aplaudem efusivamente. Foi constrangedor: eu, ali, no meio daquela roda de professores aplaudindo.
21h20: (A palestra havia sido marcada para as 20h!) comecei a palestra, usando um microfone dourado, ligado a uma pequena caixa de som, cinco metros atrás de mim, com um fio de apenas cinco metros também. A minha locomoção ficou totalmente prejudicada, além de o som ficar às minhas costas. É muito estranho ouvir a si próprio às suas costas...
Durante a palestra, as crianças que apresentaram o teatrinho ficaram soltas pelo pátio. Algumas corriam em volta das cadeiras onde os pais estavam sentados, passando pelo fio solto do lap top. Cada criança que passava por ali me deixava desesperado, diante da possibilidade de tropeçarem no fio e desligarem o lap top e o projetor. Outras foram para trás da caixa de som brincar de pega-pega. Eram aproximadamente vinte, correndo por todos os lados — inclusive entre mim e a platéia — e gritando. Alguns adolescentes ficaram na calçada, conversando, rindo alto, xingando uns aos outros de vez em quando, como ocorre em qualquer roda de jovens. Outros ficaram dentro da escola, em uma sala com janelas para o pátio externo. Às vezes, um deles aparecia na janela para ver o que acontecia durante a palestra; às vezes, dois ou mais — para eles era uma festa. Almofadas voavam lá dentro.
Gritos se sucediam; das crianças, dos adolescentes, de alguém de lá dentro da sala, da diretora pedindo silêncio aos adolescentes, da professora tentando acalmar as crianças, de alguns pais ralhando com seus filhos. Por duas vezes derrubaram uma bandeja vazia na cozinha. O barulho era infernal. Os pais se levantavam, ora para acudir o filho que caíra, ora para levar o filho ao banheiro, ora para buscar o filho que correra para a rua, ora para conversar com o filho que estava com fome e queria comer logo; alguns se levantavam para fumar, levando outros consigo, e ficavam a conversar, olhando para mim de longe. Houve um momento da palestra em que duas fileiras ficaram completamente vazias para, logo depois, voltarem a se encher. As crianças, curiosas, iam até o parquinho; algumas tentavam olhar por debaixo dos “embrulhos”, e algumas professoras corriam até lá, gritando com eles e os expulsando de lá.
A minha palestra tem duração de uma hora e meia aproximadamente. Percebi que deveria ser mais rápido dessa vez, principalmente quando a diretora surgiu na entrada do pátio, mastigando alguma coisa e olhando para mim, fingindo interesse. Entrava, ficava um pouco lá dentro — acredito que na cozinha — e voltava mastigando, mastigando. E os demais olhando para o relógio insistentemente, acho que pensando no coquetel que seria servido ao final da palestra e que já estava sobre as mesas, devidamente coberto por papel de embrulho, desde antes das 20h. E já eram 22h!
22h05: Terminei a palestra para alegria geral, inclusive para mim. Acho que ninguém, absolutamente ninguém, escutou atentamente frase alguma minha. O coquetel finalmente pôde ser servido: tubinhos de maionese, torradinha, coxinha frita, palitinhos de salsicha e azeitona enfiados em um mamão verde, coca cola e tubaína. Estes, os refrigerantes, quentes; aqueles, os salgadinhos, murchos e frios.
A diretora, sempre mastigando algo e, desta feita, com maionese no cantinho da boca, diversas vezes veio até mim, enquanto eu desligava o lap top e o projetor, trazendo consigo uma bandeja de algum salgadinho e insistindo que eu comesse alguma coisa. Eu, gentilmente, dizia-lhe que já havia comido ‘alguma coisa’ antes de chegar lá e que não tinha o hábito de me alimentar à noite, principalmente àquela hora.
Rapidissimamente consumiram quase tudo o que havia e foram-se embora. Às 22h25 despedi-me da diretora (sujeirinha no canto da boca) e da coordenadora, saí de lá e fui jantar, sozinho, em uma pizzaria na cidade vizinha, onde estava hospedado, rindo-me de tudo o que havia acontecido naquela noite.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Esquinas
domingo, 11 de novembro de 2007
Um pouco de Filosofia.
Aristóteles disse que "Por natureza, todos os homens aspiram ao saber". Digo mais: todos os homens aspiram à grandiosidade. Todos querem ser respeitados e admirados; amados e desejados; importantes e inesquecíveis. O caminho para conseguir parte disso (parte, porque é quase impossível conseguir ser tudo o que queremos ser) está na prática do que queremos ser. Algum filósofo - foge-me agora seu nome - já dizia "Não importa o que eu sou, mas o que serei". Se quero ter alguma gradiosidade, tenho de agir com grandiosidade; tenho de transformar isso em um hábito. Disse Aristóteles que a felicidade não é enviada pelos deuses, mas obtida pela prática da virtude mediante longa aprendizagem. O segredo, então, está na prática das virtudes que queremos ter, que é exatamente o que tentamos mostrar aos demais. O ideal, portanto, é praticar essas virtudes constantemente, não somente na presença de outrem, mas no íntimo, portanto temos de seguir os dizeres de Sócrates em nossa vida: "O caminho mais glorioso para viver com honra é ser a pessoa que fingimos ser".
sábado, 18 de agosto de 2007
Boa vontade x inteligência
terça-feira, 24 de julho de 2007
A arte da felicidade.
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Comentário acerca do livro O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler.
Assim tem início o surpreendente livro de Richard Zimler, norte-americano radicado no Porto, que consegue combinar com enorme precisão os aspectos documentais da ficção histórica e o suspense eletrizante de um romance noir com doses elevadas da poderosa poesia do Antigo Testamento e de outros antigos textos judaicos.
Berequias Zarco é um jovem iluminador de manuscritos, aprendiz dos segredos do Torá e da Cabala, que deve pôr seus poderes à prova para descobrir as respostas a uma série de perguntas: quem teve a coragem de assassinar seu tio e mestre, o ultraconhecido cabalista Abrãao Zarco? Quem é a jovem que morreu nua a seu lado? Que revelações estariam contidas no manuscrito do tio, que desapareceu junto com o assassino?
Movendo-se com incrível habilidade pelo emaranhado de becos e ladeiras do Alfama, da Judiaria Pequena e de outros bairros de Lisboa, Berequias e seu amigo surdo-mudo, Farid, põem-se a vasculhar todos os recantos da cidade, na tentativa de colher pistas e vestígios para elucidar o crime, no qual parece estar cifrada, misticamente, a sorte dos judeus em Lisboa.
O resultado é um livro empolgante, que recupera com qualidade quase tátil a textura de sons, aromas e sabores da velha capital lisboeta e, ao mesmo tempo, transporta o leitor para um labirinto de espelhos, simetrias e coincidências, como se o mundo não passasse da miniatura de um outro manuscrito que também nós, leitores, precisamos aprender a decifrar.
É um excelente livro, principalmente aos jovens estudantes, pois, por intermédio dele, além de se deleitarem com uma leitura instigante, adquirem conhecimentos sobre aquele período negro da história portuguesa e mundial.
sexta-feira, 2 de março de 2007
"Ser pingüim é muito difícil; é mais fácil ser gente".
“É mais fácil ser gente”. Nós é que reclamamos à toa. Somos muito pessimistas! Vivemos em um país que nunca viu um governo tão competente, que nunca presenciou tamanho progresso. Porém, reclamamos sempre da violência brasileira (que acontece em qualquer lugar do mundo, inclusive entre os pingüins), reclamamos da corrupção brasileira (que está presente em todos os escalões de qualquer país. Será que há algum pingüim corrupto também?), reclamamos da miséria brasileira (os pingüins nada possuem. Já viram um pingüim reclamando?), reclamamos da estagnação da economia brasileira, que só está à frente do Haiti na América Latina (os pingüins nem país têm!! Quem dirá economia!), reclamamos da Educação brasileira deficiente (os pingüins nem podem freqüentar escolas, porque não há escolas por lá), reclamamos da falta de saneamento das cidades brasileiras (conhecem alguma cidade pingüinesca*?). Brasileiro só sabe reclamar! Vá viver com os pingüins, para ver como é difícil, seu pessimista, e pare de reclamar!
A minha maior preocupação concernentemente aos pingüins é que Lula adora ajudar os países em dificuldade. Vai que Ele resolve ajudar os pingüins também e, sei lá, decide enviar um carregamento gigantesco de peixes para os pobres coitados, ou decide mandar alguns milhões de dólares para ajudar a diminuir o sofrimento daquele ‘povo’ miserável. Já imaginaram onde vai parar o dinheiro? E para onde vão os peixes? Acho que os pingüins vão morrer de fome, e muitos ‘tubarões’ brasileiros engordarão um pouquinho mais.
Depois de pensar tanto em pingüim, fiquei com uma sede danada lembrando-me do chope do Pingüim, choperia de Ribeirão Preto. Acho que vou com a Teté tomar uns chopinhos lá no Brasiliano e esquecer os pingüins do Lulalá!
*Pingüinesco: adjetivo inexistente, cujo significado é “de pingüim”.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Basta de "Agora é com vocês!"
__ Agora é com vocês!
__ (silêncio)
__ Quero ouvir, gente!
__ (silêncio)
__ Isso! Tá bonito!
__ (silêncio)
Claro que ele(a) ouve o povo cantando, afinal ele(a) está lá, à frente de todos. Nós, porém, não. Estamos aqui, à frente da nossa aparelhagenzinha. Só ouvimos, junto dos instrumentos da banda, aquele vozerio distante e o “Isso, gente! Que lindo!”.
Tenho vontade de pedir ao atendente da loja que me deixe ouvir o CD antes de comprá-lo. Se houver alguma parte somente com a performance do público, quero desconto! Afinal, compro o CD para ouvir o(a) tal artista; senão compraria outro de uma banda cover, que é muito mais barato.
Gostaria de lançar um apelo aos que assistem a esses shows in loco em prol dos compradores de CDs e DVDs: quando ouvirem o fatídico pedido “Agora é com vocês!”, façam silêncio absoluto. Vocês pagam o ingresso para ouvir ou para cantar? Se querem cantar, encaminhem-se até uma casa de Karaokê e cantem à vontade. Se querem assistir à performance da banda, exijam que trabalhem o tempo todo, do começo ao final do espetáculo. Eu, quando, compro um CD ou um DVD, quero ouvir músicas, e não “Que beleza!”, “Tá bonito!” e outras frases espirituosas do(a) artista.
Seria uma cena engraçada. Imagine a cara do(a) fulano(a):
__ “Agora é com vocês!”
(silêncio absoluto – não só aqui, mas lá, no momento do show - ninguém cantando!).
__ Quero ouvir! Todo mundo!
(silêncio absoluto)
__ Vamos lá, gente! Comigo, agora!
(silêncio absoluto)
Não! Não! Melhor não! Eles não pararão a gravação e ficará pior ainda. O negócio é ouvir o CD antes e só comprar se o cara trabalhar o show inteiro.
Isso! Melhor assim. Vamos lançar uma campanha: comprar somente CDs e DVDs que não tenham interrupções, que só contenham música. É isso que eu quero: músicas.
Basta de “Agora é com vocês”!