O Estadão apresentou na coluna "há cem anos" a seguinte frase:
"Nazaret...não pôde terminar a prova por ter sido feito noite."
Ao ler a frase, veio-me à mente os versos de Milton Nascimento: "Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver".
Na frase do Estadão há uma locução verbal na voz passiva, o que indica que o sujeito sofre a ação: "algo ter sido feito por alguém = alguém ter feito algo".
Ocorre, porém, que não há ação sendo praticada, pois ninguém fez a noite! A frase, então, está, inadequada.
O que o autor deveria ter usado é o verbo fazer pronominal - fazer-se - que tem, dentre outros, o significado de "tornar-se, ficar, vir a ser".
- "... fez-se noite em meu viver" = meu viver tornou-se noite.
- Não pôde terminar a prova por ter-se feito noite = Não pôde terminar a prova por ter-se tornado noite.
Os verbos "tornar-se, ficar e ser" são denominados de verbos de ligação, os que indicam uma qualidade, um modo de ser, ou mudança de qualidade ou do modo de ser. O verbo "fazer-se", nesses casos também o é.
Modernamente não o usamos apesar de ser adequado ao padrão culto. Preferimos os verbos "ser" e "estar". Certamente, um jornal daria a notícia com uma frase parecida com estas:
- Não pôde terminar a prova porque já era noite.
- Não pôde terminar a prova porque já estava noite.
- Não pôde terminar a prova porque já estava escuro.
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