Algumas instituições e organizações
resolvem mudar a escrita de palavras da Língua Portuguesa ao bel-prazer, sem
levar em consideração sua etimologia nem as regras gramaticais. É o que
aconteceu, por exemplo, com a palavra “muçarela” ou
“mozarela”. Essas são as maneiras adequadas de se escrever a
palavra cujo significado é “queijo napolitano de leite de búfala ou de vaca,
geralmente de forma arredondada”. Ocorre, porém, que o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento instituiu a grafia “mussarela” pela
Portaria 364/1997, admitindo-se, também, a grafia “mozarela”.
Ambas constam do “Codex Alimentarius”, expressão latina que significa “código
alimentar”.
O que leva essas instituições a
praticarem tais mudanças? Dizem elas sempre que o intuito é o de se adaptarem a
algo maior, como “recomendação internacional” ou “cristalização da palavra
devido ao uso constante”. Já que a maioria escreve assim, assim passará a ser o
adequado, mesmo que os dicionários e gramáticas ignorem tal atribuição. Desde
1997, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento quer que se escreva
“mussarela”; os dicionários ignoram-no e mantêm as escritas
“muçarela” e “mozarela”.
Agora vem o Comitê Paraolímpico
Brasileiro querendo mudar a grafia das palavras “paraolimpíada”
e “paraolímpico” para “paralimpíada” e “paralímpico”. Essas
palavras – paraolimpíada e paraolímpico – se
formam com a junção do prefixo grego “par(a)”, usado com a
noção de, dentre outras, “semelhança”, e do substantivo
“olimpíada” ou do adjetivo “olímpico” ou seja,
são jogos semelhantes aos Jogos Olímpicos. O uso dos parênteses se deve ao fato
de que o prefixo pode ser escrito de duas maneiras: “par” e “para”; aquele, quando
o prefixo se une a palavra iniciada por “a”, como “paracetamol (par + acetamida + fenol); este, a todas as outras. Ao se
juntarem, portanto, "par(a)" com
olimpíada ou com olímpico, o
"a" permanecerá, e o substantivo ou o adjetivo não sofrerão
modificação alguma: paraolimpíada e
paraolímpico.
É de praxe que o elemento seguinte ao
prefixo “par(a)” seja íntegro, ou
seja, inteiro, completo, a não ser que haja a junção de três elementos, como
vimos em “paracetamol”. O mesmo ocorre com outros prefixos e elementos de
composição, como “soci(o)”, “sof(i/o)”, “surd(i)”, “acr(o)”, dentre inúmeros
outros. Veja alguns exemplos: sociocultural, socioeconômico – que também pode
ser escrito socieconômico, sociopolítico, sofisma, sofomania (querer mostrar-se
sábio), surdimutismo (o mesmo que surdo-mudez), acrópole, paratireoide,
etc.
Além disso, o dicionário Houaiss traz as
regras quanto ao uso do par(a):
1) Liga-se par(a) sem hífen a elementos iniciados
por “s” ou por “r”, que têm essas consoantes duplicadas (parassífilis,
pararreumático);
2) Liga-se par(a) com hífen a elementos iniciados
por “h” (para-hélio, para-história);
3) Liga-se par(a) sem hífen a elementos iniciados
por vogal, EM QUE ELA É MANTIDA
(paraeconômico, parainfluenza, paraolímpico).
Observe, então, que há uma regra para a
formação de uma palavra com a junção de par(a) com outro elemento: se ele for
iniciado por vogal, esta se mantém. Não há razão, portanto, de o Comitê
Paraolímpico Brasileiro mudar a grafia de tais palavras.
Portanto, caros leitores, mesmo que
algumas instituições ou organizações queiram mudar a grafia de certas palavras,
estas mantêm a escrita original. O adequado ao padrão culto da língua é
“muçarela” ou “mozarela”,
“paraolimpíada” e
“paraolímpico”.
4 comentários:
Caro professor,
Eu não sou tão profundo na língua portuguesa quanto você, porém, me sinto indignado com essas tentativas de modificar, do dia para noite, o vernáculo. O nosso Comitê Olímpico Brasileiro poderia se voltar para sua função principal. E alguns órgãos de comunicação, os quais se dizem cultos, poderiam não fazer um papel tão ridículo em sair falando por aí "paralímpicos" ou "paralimpíada". Eu, se fosse jornalista, me sentiria constrangido em ser obrigado a pronunciar palavras inexistentes para cumprir determinações desses patrões.
Concordo com você, professor! A escrita original deve ser mantida!
Também concordo, Professor. Acho um absurdo essa mudança. A Academia Brasileira de Letras deveria ordenar ao COB algumas mudanças nas competições também.
Concordo plenamente com o senhor, professor. Mas, depois da presidentA, tudo pode acontecer com a língua portuguesa, como o futchibol, o tchiatro, o diz a fio, o diz oito, o istudo,o diz impregado, a redundância de sujeito (...o ministro ele falou que a petição ela poderia ser feita...). Assassinam a língua portuguesa nos principais meios de comunicação.
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