- A temática e a linguagem barroca expressam os conflitos experimentados pelo homem do século XVII.
- A linguagem barroca caracteriza-se pelo emprego de figuras, como a comparação e a alegoria, entre outras.
- A antítese e o paradoxo são as figuras que a linguagem barroca emprega para expressar a divisão entre o mundo material e o mundo espiritual.
- As poesias barrocas mantêm uma estrutura formal e rítmica regular.
- Nas poesias barrocas, é muito comum o poeta enfatizar as ideias opostas.
- A poesia de Gregório de Matos, associada ao barroco, pode ser dividida em lírica, religiosa e satírica.
- Gregório de Matos teve grande capacidade de fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracterizava o estilo da época.
- A sátira de Gregório de Matos investe contra as oportunistas operações dos mercados da época, valendo-se, para isso, das engenhosas construções barrocas, como no poema seguinte:
O açúcar já se acabou? Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?
Subiu.
Logo já convalesceu?
Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe
cresce,
baixou, subiu e morreu.
- O homem barroco vivia à busca da unidade, seu espírito era dividido entre o idealismo e o apelo dos sentidos, como exemplificam os versos seguintes.
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo
juntamente:
Ser Angélica e Anjo
florente,
Em quem, senão em vós, se
uniformara?
- O poeta barroco usava do jogo metafórico próprio do Barroco, a respeito da fugacidade da vida, exaltando o gozo do momento, como exemplificam os versos seguintes:
Goza, goza da flor da mocidade,
que o tempo trota a toda
ligeireza,
e imprime em toda a flor
sua pisada.
Ó, não aguardes que a
madura idade
te converta essa flor, essa
beleza,
em terra, em cinza, em pó,
em sombra, em nada.
- Sabe-se que o Barroco produziu uma literatura que expressa o conflito em face da vida. Em alguns versos se verificam alguns traços desse conflito, a ponto de ele tentar a fusão dos opostos, como em “E na alegria, sinta-se tristeza”
- Características da obra do poeta barroco Gregório de Matos: Sentido vivo de pecado aliado à busca do perdão e da pureza espiritual; Poesia com força crítica poderosa, pessoal e social, chegando à irreverência e obscenidade; Realça a beleza física da amada e a transitoriedade dessa beleza; Tentativa de conciliar elementos contraditórios e a busca da unidade sob a diversidade.
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem
governar sua cozinha
E podem governar
o mundo inteiro.
(...)
Estupendas usuras
nos mercados,
Todos, os que não
furtam, muito pobres,
E eis aqui a
Cidade da Bahia.
- O poema, escrito por Gregório de Matos no século XVII, representa, de maneira satírica, os governantes e a desonestidade na Bahia colonial.
Neste
mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem
mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com
sua língua, ao nobre o vil decepa:
O
Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra
o patife da nobreza o mapa:
Quem
tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem
menos falar pode, mais increpa:
Quem
dinheiro tiver, pode ser Papa.
A
flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala
hoje na mão, ontem garlopa,
Mais
isento se mostra o que mais chupa.
Para
a tropa do trapo vazo a tripa
E
mais não digo, porque a Musa topa
Em
apa, epa, ipa, opa, upa.
MATOS, Gregório de. Poemas. Belo Horizonte:
Autêntica Ed., 1998. p. 56.
Glossário:
carepa:
caspa, sujeira.
galorpa:
instrumento utilizado pelos carpinteiros para aplainar madeira.
increpar: censurar
Considerando a
poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua obra se insere, pode-se dizer o seguinte:
Apresentando a
luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente
e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da
época e encontram paralelo na obra de um seu contemporâneo, Padre Antônio
Vieira.
Os poemas
erótico-irônicos são um exemplo da versatilidade do poeta, mas não são
representativos da melhor poesia do autor, mas apresentam a mesma
sofisticação e riqueza de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos
apresentam.
Como bom
exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera alguns
recursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de
figuras de linguagem raras e de resultados tortuosos.
A presença do
elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social
problemática da sociedade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um
ser em conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual.
Pequei,
Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta
piedade me despido,
Porque,
quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a
perdoar mais empenhado.
Gregório de
Matos, “A Jesus Cristo Nosso Senhor”
Observação:
hei pecado = tenho pecado
delinquido = agido de modo errado
Nessa estrofe, o poeta confessa-se pecador e
expressa a convicção de que será abençoado com a graça divina.
Um comentário:
Fascinante o seu trabalho professor Dilson Catarino. Estou conhecendo o site agora e já vejo que me será de muita utilidade. Obrigado.
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