segunda-feira, 12 de maio de 2008

Usos dos pronomes oblíquos átonos


Os pronomes oblíquos átonos são pronomes pessoais não retos. Os retos são aqueles que funcionam sintaticamente como sujeito, e os oblíquos, como complementos, havendo exceção. Os oblíquos são subdivididos em átonos, os que não são regidos de preposição, mesmo que seja exigida por um termo regente, e os tônicos, acompanhados obrigatoriamente de preposição, mesmo que ela não seja exigida por termo algum. 
Por exemplo, o verbo obedecer é termo regente da preposição a, pois "quem obedece, obedece A algo". Se o complemento de obedecer for um pronome oblíquo átono, ela desaparecerá: "Obedeço-lhe!"; "Obedeça-me". 
Porém, o verbo conhecer não exige preposição alguma, pois "quem conhece, conhece alguém". Se o complemento de conhecer for um pronome oblíquo tônico, a preposição A terá de ser usada obrigatoriamente, pois um pronome oblíquo tônico sempre é regido por uma preposição: "Conheço a ele, mas ele não conhece a mim".

Pronomes Pessoais
Retos
Oblíquos átonos
Oblíquos tônicos
Eu
me
mim, comigo
Tu
te
ti, contigo
Ele, ela
se, o, a, lhe
si, consigo
Nós
nos
nós, conosco
Vós
vos
vós, convosco
Eles, elas
se, os, as, lhes
si, consigo

 
Os pronomes oblíquos átonos podem ser usados com as seguintes funções sintáticas:
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1- Objeto Direto: Os pron. obl. át. me, te, se, o, a, nos, vos, os, as podem exercer a função sintática de objeto direto, ou seja, podem complementar o sentido de um verbo transitivo direto (VTD).
Por exemplo, o verbo esperar é transitivo direto, pois quem espera, espera algo (ou alguém). Podem-se, então, construir frases assim:
  • Ela me esperou.
  • Eu te esperei.
  • Eu o esperei.
  • Eles a esperaram.
  • Ela nos esperou.
  • Eu vos esperei.
  • Nós os esperamos.
O pronome se funcionará como objeto direto quando for reflexivo ou recíproco:
  • Ela se feriu.
  • Eles se amam.
Observe que, quando o objeto direto for de terceira pessoa, não se usa ele, ela, eles, elas, e sim o, a, os, as. É inadequado usar Eu esperei ele, apesar de ser uso corrente no Brasil. O certo é Eu esperei-o ou Eu o esperei.
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Variantes de O, A, OS, AS:
Você observou que, nos exemplos acima, os pronomes foram colocados procliticamente, ou seja, antes do verbo. Se forem colocados encliticamente, ou seja, depois do verbo, os pronomes o, a, os, as podem sofrer mudanças. Vejamo-las:
- Se o VTD terminar em vogal ou em semivogal, usam-se os pronomes o, a, os, as:
  • Eu esperei-o.
- Se o VTD terminar em M, -ÃO ou –ÕE, os pronomes se modificam para no, na, nos, nas:
  • Eles esperaram-no.
  • Eles sempre reservam as melhores empadinhas e dão-nas aos amigos.
  • Pega os sapatos e põe-nos no armário se não quiseres ficar de castigo.
- Se o VTD terminar em R, S ou Z, essas terminações desaparecem, e os pronomes se transformam em lo, la, los, las:
  • Não vou esperá-lo.
  • Nós esperamo-los.
  • O padre sai com as crianças todas as manhãs e condu-las até a capela (= conduz as crianças)
  • Se tu quiseres dizer a verdade a todos, di-la (= diz a verdade)
  • A verdade? Qui-la (= quis a verdade)
  • Os animais silvestres, matamo-los.
- Se o VTD terminar em –mos, e o OD for nos ou vos, o s do verbo desaparecerá:
  • Respeitamo-nos.
  • Esperamo-vos.
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2- Sujeito acusativo (sujeito de verbo no infinitivo ou no gerúndio, que com ele constitui oração subordinada substantiva objetiva direta)
Os pron. obl. át. me, te, se, o, a, nos, vos, os, as podem exercer a função sintática de sujeito acusativo, que é o sujeito de um verbo no infinitivo ou no gerúndio, que, por sua vez, é o núcleo do objeto direto de um verbo causativo (fazer, mandar, deixar) ou de um verbo sensitivo (ver, sentir, ouvir). Destrincemos isso:
Haverá sujeito acusativo quando o complemento de fazer, mandar, deixar, ver, sentir e ouvir for uma oração cujo verbo esteja no infinitivo ou no gerúndio. O sujeito deste verbo é o acusativo. Por exemplo:
  • Fizeram o réu devolver o dinheiro.
O objeto direto de fazer não é o réu, como à primeira vista possa parecer, mas sim a oração o réu devolver o dinheiro. Alguém fez o quê? O réu devolver o dinheiro. A expressão o réu é o sujeito do verbo devolver, que está no infinitivo. Há, portanto, a constituição de uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
O sujeito o réu pode ser substituído por um pronome, que tem de ser oblíquo átono: Fizeram-no devolver o dinheiro.
  • Mandei-o sair da frente.
  • Deixaram-me ficar naquele lugar.
  • Viram-nos pulando o muro.
  • Senti-a puxar meus cabelos.
  • Ouvi-os cantando alegremente.
Observe que ocorrem as mesmas variantes dos pronomes o, a, os, as.
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3- Objeto Indireto: Os pron. obl. át. me, te, se, lhe, nos, vos, lhes podem exercer a função sintática de objeto indireto encabeçado pela preposição a, ou seja, podem complementar o sentido de um verbo transitivo indireto (VTI) que exija a prep. a. Esta, porém, desaparece quando o objeto indireto for um pronome oblíquo átono.
Por exemplo, o verbo obedecer é transitivo indireto e exige a prep. a, pois quem obedece, obedece a algo (ou a alguém). Podem-se, então, construir frases assim:
  • Ela me obedeceu.
  • Eu te obedeci.
  • Eu lhe obedeci.
  • Elas nos obedeceram.
  • Eu vos obedeci.
  • Nós lhes obedecemos.
Apesar de ser raro o uso, o pronome se funcionará como objeto indireto quando for reflexivo ou recíproco:
  • Ela se arroga o direito de reclamar sempre.
  • Elas se obedecem.
- Se o VTI terminar em –mos, e o OI for nos ou vos, o s do verbo desaparecerá:
  • Perdoamo-nos.
  • Obedecemo-vos.
- Se, porém, o OI for lhe ou lhes, nenhuma terminação do VTI desaparecerá:
  • A vocês, meninas, perdoamos-lhes.
  • Às leis de trânsito, obedecemos-lhes.
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4- Adjunto adnominal (aa): Os pron. obl. át. me, te, lhe, nos, vos, lhes podem exercer a função sintática de adjunto adnominal. Isso acontecerá quando houver indicação de posse: algo de alguém. A construção sintática ocorrerá da seguinte maneira:
verbo + pronome oblíquo átono + substantivo.
  • Cortaram-me os cabelos = cortaram os meus cabelos.
  • Ainda te apaziguo os ânimos = ainda apaziguo os teus ânimos.
  • Se quiser, beijo-lhe os pés = beijo os seus pés.
  • Multou-nos os carros = multou os nossos carros.
  • Pego-vos o material e não o devolvo = pego o vosso material.
  • Roubaram-lhes os documentos = roubaram os documentos deles.
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5- Complemento nominal (CN): Os pron. obl. át. me, te, lhe, nos, vos, lhes podem exercer a função sintática de complemento nominal. Isso acontecerá quando houver a expressão algo a alguém complementando um verbo, sendo que o algo é um substantivo abstrato, um adjetivo ou um advérbio e que a prep. a provém dele (do algo). Por exemplo:
Eu sou fiel. O adjetivo fiel exige a preposição a, pois quem é fiel, é fiel a algo (ou a alguém), portanto eu sou algo (fiel) a alguém.
A preposição a, portanto, encabeça um complemento nominal (complemento de um elemento que não é verbo). Pode-se, então, usar um pronome oblíquo átono como complemento desse adjetivo:
  • ― Tu me és fiel? ― Sim. Sou-te fiel.
Tenho-lhe muito mais respeito do que tem por mim. (Tenho respeito a alguém. A prep. a não provém do verbo ter, e sim do subst. abstrato respeito)

27 comentários:

Luciana Lage disse...

Caro Professor Dílson,
Eu ensino nossa belíssima língua a estrangeiros e sou muito grata por suas aulas aqui no blog.

Nanny disse...

Estou me preparando para Concursos e estou encontrando aqui muita informação com explicação fácil e direta.
Obrigada!

Unknown disse...

Encontrei aqui o que antes não encontrara em nenhum sítio que falasse da Língua Portuguesa! Muito bom! :D

Unknown disse...

muito bom professor, o sr. está ajudando a mim e a meus amigos muito com essa explicação rapida

Anônimo disse...

Olha...muito obrigada,tenho apenas 14 anos,e estou na 8ª série e agora eu sei certinho como identificar os pronomes,também tenho um Blog só que sobre o espaço.....Por favor se der me siga ...

oBRIGADA
FERNANDA

Anônimo disse...

Vi como colocá-los corretamente em meus poemas

Barroco disse...

Professor Dilson, por que que não ocorre ênclise em todos os períodos em que o sr. utilizou o verbo obedecer?

Grato
Clebson Neves

Dílson Catarino disse...

Porque, quando não houver palavra atrativa nem o verbo estiver no início do período, facultativamente se usa próclise ou ênclise.

Geraldo Moreira disse...

Prof. Dilson, sou professor aposentado de História e gosto muito da língua portuguesa, mas lhe confesso que mesmo aposentado continuo tendo muitas dúvidas, todavia,a sua coluna tem sido muito importante para eu corrigir alguns que sempre cometi.
Parabéns pelo seu trabalho.
Geraldo Prado

Vitor Motta disse...

Olá, Professor Dilson, ao analisar um dos exemplos dos pronomes oblíquos átonos na condição de adjunto adnominal, surgiu uma dúvida: na oração, "Roubaram-lhes os documentos.", não seria possível encararmos o pronome como Objeto Indireto?

Aquele abraço.

Vitor Motta (vitormott@gmail.com)

Professor César disse...

Olá, poderia tirar uma dúvida? Pela regra, os pronomes oblíquos átonos não são precedidos de preposição. Na seguinte frase:"Jesus Cristo veio ao mundo para nos salvar", parece que há uma preposição antes desse pronome.

543 disse...

Boa tarde.
Excelente explicação.
Conforme demonstrado, o pronome "lo" é um derivado de terceira pessoa, certo?!
Há uns dias, saindo de um restaurante, notei a seguinte frase: "Foi bom tê-lo conosco". Essa colocação está incorreta, não?! O correto não seria "Foi bom ter-te conosco", uma vez que a frase alude à segunda pessoa (tu)?

Dílson Catarino disse...

A terceira pessoa se refere tanto a "ele, ela" quanto a "você"; "Foi bom tê-lo conosco" equivale a "Foi bom ter você conosco".

Unknown disse...

Bom dia. Parabéns pela explicação. Resta-me a dúvida na construção culta da frase: Convido-lhes a conhecer.... OU Convido-os a conhecer ...
Obrigada
Maria Ines

Dílson Catarino disse...

Quem convida, convida alguém a fazer algo, portanto o adequado é "Convido-os a conhecer...".

juliano andriollo disse...

Nossa, sem palavras para agradecer tamanha ajuda!
Sua didática transformou meus conhecimentos em pronomes pessoais!
Estava muito angustiado, mas sua aula acabou com o problema!
De coração, meu muito obrigado!!!!

Unknown disse...

Prof, o correto não seria: "Convido-vos a conhecer ..."? Porque está se referindo a 2° pessoa do plural e não à terceira.

Outro exemplo: Deus lhe abençoe! Entendo que refere-se à 3° pessoa (ele) e não à 2°(tu). Posso usar lhe para você?

Dílson Catarino disse...

Não está referindo-se à 2ª pessoa do plural, mas sim à 3ª do singular.
Usa-se “lhe” para “você, ele ou ela”.

Thiago Camelo disse...

Olá, professor. Acompanho há muito tempo. O senhor saberia apontar uma gramática, entre as que a gente confia, que discorra sobre o pronome átono como complemento nominal. Faz todo sentido e escrevo intuitivamente dessa forma, mas nunca tinha parado para analisar esse curioso comportamento do pronome. Abraços!

Dílson Catarino disse...

Todas as boas gramáticas apresentam essa função sintática!!

Thiago Camelo disse...

Nunca vi nenhuma falando especificamente do pronome átono como complemento nominal, infelizmente. É um item ao qual poucos de detêm. Rocha Lima, Bechara, Celso Cunha, Luft, Maria Helena e mesmo a última, recente e completa da Amini - nenhuma delas discorre sobre o assunto; à exceção
de Celso Cunha que exemplifica um caso de complemento nominal com pronome oblíquo (dELE);
mas não pronome átono. Agradeço, no entanto, a resposta e os textos que tanto me ajudam. Um abraço!

Aluna disse...

Boa Noite.
Professor Dilson, como saberei se o pronome átono me é objeto direto ou indireto?

Dílson Catarino disse...

Pela regência do verbo: “ver” é transitivo direto, então, em “Ela viu-me”, “me” é objeto direto; “obedecer” é transitivo indireto, então, em “Ela me obedece”, é objeto indireto.

Unknown disse...

Professor, como é bom quando buscamos esclerecer nossas inquietações e achamos explicações agradáveis e objetivas. A elaboração de seu texto contempla-nos grandiosamente. (Espero não ter cometido falhas neste meu texto de elogio).

Dílson Catarino disse...

Obrigado pelo carinho, Simone.

Paula Brasileira disse...

Esse é um professor que eu confio, o melhor professor de português. Obrigada mestre!

Dílson Catarino disse...

Obrigado pelo carinho, Paula!