segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O imitar é congênito no homem, e os homens se comprazem no imitado. (Aristóteles. Poética)


Essa frase constava da prova de Conhecimentos Gerais do vestibular 2015 da UEL. A questão não versava sobre gramática, mas, quem não a domina, certamente sentiu dificuldades em entender seu significado em virtude do vocabulário: qual o significado de "congênito" e de "comprazem"? E, como não conhece o significado do verbo, certamente não sabe como o conjugar. Vamos, então, à explicação:

O adjetivo "congênito" tem como significado, dentre outros, "nascido com o indivíduo". Aristóteles, portanto, afirmou que o ato de imitar nasce com o homem. O ser humano imita seus semelhantes desde o nascimento. Aprende pelas ações dos outros.

O verbo "comprazer" significa "fazer o gosto, a vontade; ser agradável; ser do agrado de; agradar, satisfazer". "Comprazem" é a conjugação da terceira pessoa do plural (eles - os homens) do presente do indicativo (sempre). Na frase, porém, o verbo utilizado foi "comprazer-se", verbo pronominal - aquele que se acompanha do pronome (me, te, se, nos, vos, se) em todas os tempos e modos, cujo significado é "deleitar-se, deliciar-se, regozijar-se". Aristóteles, então, afirmou que os homens se deliciam no imitado, ou seja, gostam da imitação.

O verbo "comprazer", ou "comprazer-se", se conjuga na maioria dos tempos com as mesmas desinências (terminações) de qualquer verbo terminado em "-er". Observe:

- eu vendo, tu vendes, ele vende, nós vendemos, vós vendeis, eles vendem, então:
- eu comprazo, tu comprazes, ele compraz (o "e" desaparece), nós comprazemos, vós comprazeis, eles comprazem (comprazer)
- eu me comprazo, tu te comprazes, ele se compraz, nós nos comprazemos, vós vos comprazeis, eles se comprazem (comprazer-se)

- eu vendia, tu vendias, ele vendia, nós vendíamos, vós vendíeis, eles vendiam, então:
- eu comprazia, tu comprazias, ele comprazia, nós comprazíamos, vós comprazíeis, eles compraziam

- eu vendi, tu vendeste, ele vendeu, nós vendemos, vós vendestes, eles venderam, então:
- eu comprazi, tu comprazeste, ele comprazeu, nós comprazemos, vós comprazestes, eles comprazeram.

Esse tempo - o pretérito perfeito do indicativo - admite outra conjugação:

- eu comprouve, tu comprouveste, ele comprouve, nós comprouvemos, vós comprouvestes, eles comprouveram.

Há outros dois tempos que admitem dupla conjugação:

1) O pretérito imperfeito do subjuntivo - aquele geralmente encabeçado pela conjunção "se" e com a desinência "-sse"
- se eu comprazesse ou comprouvesse, se nós comprazêssemos ou comprouvéssemos, etc.

2) O futuro do subjuntivo - aquele encabeçado geralmente pela conjunção "quando", indicando ação futura hipotética:
- Quando ele comprazer ou comprouver, quando eles comprazerem ou comprouverem, etc.

Veja alguns exemplos:

- Eu sempre me comprazi estudando Português.
- Eu sempre me comprouve estudando Português.
- Os namorados se comprazem quando estão juntos.
- Nós nos comprazeremos certamente durante as férias.
- Não me compraz estudar Química.


Há também o verbo "aprazer", cujo significado é "causar prazer; ser aprazível; agradar, deleitar" e o correspondente pronominal "aprazer-se", que significa "sentir prazer, contentar-se, deleitar-se". Sua conjugação é idêntica à de comprazer, porém, não há a duplicidade naqueles três tempos. Há somente aquela em que haja "prouve": eu me aprouve, se eu aprouver, quando nós aprouvermos, etc.

Veja alguns exemplos:

- Eu sempre me aprouve estudando Português.
- Os namorados se aprazem quando estão juntos.
- Nós nos aprazeremos certamente durante as férias.
- Não me apraz estudar Química.

Finalmente, há ainda o verbo "prazer", sinônimo de "aprazer" e de "comprazer". Este só se conjuga nas terceiras pessoas do singular e do plural: praz, prazem; prouve, prouveram, etc. O sujeito deste verbo é representado por algo, não por alguém. Por exemplo:


- Não me praz estudar Química.

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