Numa publicação jornalística, havia
a seguinte frase: “Felipão pode pedir
para Neymar forçar segundo cartão contra o México”. Observe, porém, que
essa frase foi reescrita de maneira diferente no título de nossa coluna. Por
quê? Vejamos a explicação:
O
comportamento sintático do verbo pedir
é um pouco diferente do da maioria dos verbos, que admite a redução da oração
que funciona como seu complemento ou sujeito. Por exemplo, a banda Legião
Urbana, que tanto sucesso fez nas décadas de 80 e 90, cantava “É preciso amar as pessoas como se não houvesse
amanhã”, que é a redução de “É
preciso que se amem as pessoas como se não houvesse amanhã”. Houve a
retirada da conjunção integrante que
e a colocação verbo amar no
infinitivo. É o que denominamos de redução de uma oração.
O
verbo pedir só admite essa redução,
com a intercalação da preposição para
entre pedir e o outro verbo no
infinitivo, quando houver subentendida a palavra licença, autorização ou
permissão. Em nenhum outro caso deve interpor-se tal preposição entre pedir e a outra oração, que funciona
como complemento direto. Por exemplo: “Pedi
que retomassem a discussão”, e não “Pedi para retomarem a discussão”; “O gerente pediu que seu assessor levasse os
documentos até sua mesa”, e não “O gerente pediu para que seu assessor
levasse os documentos até sua mesa”.
Observe,
porém, estas frases: “Pedi para retomar a
discussão”; “O assessor pediu para levar os documentos até a mesa do gerente”.
Essas estão adequadas ao padrão culto, pois há subentendida a palavra licença, autorização ou permissão: “Pedi (licença) para retomar a discussão”; “O assessor pediu
(permissão) para levar os documentos até a mesa do gerente”.
Uma
frase ficou bastante famosa no Brasil, devido ao filme “Tropa de Elite”, em que o Capitão Nascimento falava a seus
subordinados: “Pede pra sair!”.
Adequada, pois ele poderia dizer “Pede autorização para sair!”.
Esse
é um assunto um tanto polêmico, pois há gramáticos que já admitem a interposição
da preposição entre o verbo pedir e
seu complemento. Fazem isso, porém, para aproximar a língua ao falar da
população em geral, o que fere as normas da língua padrão. Veja o que dois baluartes
da Gramática da Língua Portuguesa dizem sobre isso:
Napoleão
Mendes de Almeida, em seu Dicionário de
Questões Vernáculas: “Conquanto haja exemplos que se afastam desse
procedimento, quem constrói de acordo com a sintaxe exposta redige
rigorosamente bem; construções com o verbo pedir,
quando o objeto é oracional, devem ter o que
ligado diretamente ao verbo; a interposição da preposição para não se justifica, e os que pretendem defender essa construção
recorrem a estratagemas cruciantes para a inteligência”.
Francisco
Fernandes em seu Dicionário de Regência
Verbal: “A maioria dos gramáticos tacha de viciosa a construção pedir
para fazer alguma coisa e
somente admite pedir para quando for possível subentender uma das palavras licença,
permissão, autorização, vênia, etc. Não obstante, é comum encontrar, em
escritores de boa nota, exemplos da construção condenada, como Herculano,
Garret, Camilo, Machado”.
O
fato de encontrar exemplos em textos de grandes escritores não justifica a
utilização da expressão como adequada, pois a eles existe a licença poética,
que lhes permite desviar-se da norma culta em poesias, contos, romances, etc.
Ao jovem vestibulando, àquele que se submeterá a um concurso e aos que se
interessam pela comunicação adequada aconselha-se que se siga tão somente a
norma padrão.
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