sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não premeio quem não merece que o premeiem.

 Essa frase soa estranhissimamente aos ouvidos brasileiros, pois estamos acostumados com o uso regular dos verbos terminados em -iar, apesar de sabermos que existem casos especiais, como odiar, cuja conjugação na primeira pessoa do singular do presente do indicativo é Eu odeio. Todos sabemos disso. Mas Eu premeio ... que o premeiem? Que esquisitice é essa? Vamos à explicação:

            Os verbos terminados em –iar têm três modelos de conjugação, um regular e dois irregulares. Vejamo-los:

            1- Os verbos mediar, intermediar, ansiar, remediar, incendiar odiar são conjugados da seguinte maneira: as pessoas eu, tu, ele eles do presente do indicativo, tempo caracterizado pela expressão Todos os dias..., e do presente do subjuntivo, tempo caracterizado pela expressão Espero que..., recebem a letra e antes da terminação –iar

- Todos os dias eu intermedeio, tu intermedeias, ele intermedeia, eles intermedeiam.
- Espero que eu intermedeie, que tu intermedeies, que ele intermedeie, que eles intermedeiem.

As demais pessoas desses tempos e todas as outras dos demais tempos são regulares: 

- Nós intermediamos, vós intermediais.
- Que nós intermediemos.
- Eu intermediei.
- Se ele intermediasse.
- Quando eles intermediarem, etc.
     
       2- Os verbos derivados de substantivos paroxítonos – aqueles cuja sílaba tônica é a penúltima – terminados em –ia ou em –io tanto podem ter conjugação regular quanto idêntica às dos verbos do grupo 1: 

- Todos os dias eu premio, tu premias, ele premia, eles premiam.
- Todos os dias eu premeio, tu premeias, ele premeia, eles premeiam;
- Espero que eu premie, que tu premies, que ele premie, que eles premiem.
- Espero que eu premeie, que tu premeies, que ele premeie, que eles premeiem.

As demais formas são somente regulares: 

- Todos os dias nós premiamos, vós premiais.
- Espero que nós premiemos, que vós premieis.
- Eu premiei, ele premiou.
- Se nós premiássemos, etc.
    
        O problema dessa nova regra, criada pela Reforma Ortográfica, é que o texto do Acordo registra o seguinte:

Existem verbos em -iar, ligados a substantivos com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na conjugação: negoceio ou negocio; premeio ou premio”.

Negociar provém do substantivo negóciopremiar, de prêmio.

            O Acordo diz, então, que “existem verbos” e cita como exemplo negociar premiar, não registrando nenhum outro exemplo. Isso significa que não são todos os verbos derivados de tais substantivos que entram nessa regra e também que os dois apresentados como exemplos não são os únicos. Com isso ficamos sem saber quais são eles. Será que poderemos dizer eu angusteio ou eu copeio? Esse mistério permanecerá até que os detentores do poder ortográfico se manifestem sobre tal assunto. Por enquanto ficaremos com os únicos apresentados pelo Acordo: negociar e premiar. A frase apresentada no título está, então, adequada ao padrão culto da língua.

            3- Todos os demais verbos terminados em –iar têm conjugação regular, idêntica à de qualquer verbo terminado em –areu assobio, eles se saciam, que ele acaricie, ele adia, etc.

            Houve outra mudança na ortografia da Língua Portuguesa em virtude do Acordo: as letras e e o, quando estiverem na sílaba tônica, e a sílaba seguinte se iniciar por ou por n, tanto podem ser acentuadas com acento agudo quanto com acento circunflexo. Então tanto se pode escrever o substantivo que dá origem ao verbo premiar com acento agudo ou com acento circunflexo: o prêmio ou o prémio. Outros exemplos: fenômeno/fenómeno, gêmeos/gémeos, Antônio/António.



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