Fala-se muito que o jovem não
gosta de ler. Concordo que há um sem-número deles que tem verdadeira aversão a
livros em geral. Ocorre, porém, que os adultos não escapam das pesquisas
também. Uma delas, contratada por uma revista semanal brasileira, constatou que
os adultos em geral leem muito pouco: 25% nada leem, e mais de 40% leem de um a
quatro livros por ano. São assustadores esses números. Quase setenta por cento
da população adulta brasileira leem nada ou muito pouco. Como incentivar os
jovens à leitura com uma realidade dessas.
Quero, então, aproveitar este
espaço para apresentar alguns tipos de leitura para, com isso, tentar
incentivar os adultos em geral a se acostumarem mais com o manusear livros e,
assim, ajudar os jovens a se animarem para tal. Essas ‘dicas’ fazem parte de
minha palestra A arte de formar jovens
leitores, que traz conselhos
úteis para o incentivo à leitura. O primeiro deles é o adulto dar o exemplo aos
jovens. Aquilo que se observa no dia a dia grava-se mais do que aquilo que se ouve.
Os jovens devem entender o
significado cultural da língua para se interessarem por ela; sem esse
entendimento, a leitura se transforma em mero passatempo, enquanto deveria ser
efetivada para o engrandecimento intelectual e espiritual do leitor. Para
conseguir isso, o adulto não pode ser um ‘pregador’. É muito comum observarmos
em sala de aula professores reclamando e criticando os alunos por estes nada
lerem, nem jornais, nem livros, nem revistas. Ocorre, porém, que esses mesmos
adultos não dão o exemplo; não entram em sala de aula com um livro
interessante; não indicam leituras edificantes. Quando há a indicação, são
livros que serão cobrados em provas, para que o aluno consiga futuramente
resolver as questões de vestibulares.
E em muitas casas, acontece o mesmo:
muitos são os pais que reclamam que nunca veem os filhos com um livro, que eles
não se preparam adequadamente como estudantes, etc. e tal. Mas, e aí vem a
pergunta crucial. Não é isso que fazem aqueles quase setenta por cento? Cobram,
mas não fazem. Chega a ser hipocrisia. Vamos, então, aos cinco tipos de
leitura. Quem sabe, com isso, alguns daqueles setenta por cento não modifiquem
o resultado da próxima pesquisa:
Há cinco tipos de leitura:
1. A “leitura passatempo”, em que
se lê sem preocupação alguma. O único intuito é, como o próprio nome sugere,
ler para passar o tempo, sem preocupação com o que a leitura possa proporcionar
ao intelecto e ao espírito. Há muitos livros que contribuem para esse tipo de
leitura: aquelas coleções vendidas em bancas e em sebos, produzidas muitas
vezes com papel-jornal, alguns romances românticos do século dezenove, que
tinham como intuito levar lazer às senhoras e senhoritas leitoras daquela
época. Essa leitura também se encontra nas revistas que mostram o cotidiano,
que tratam da beleza da mulher, da casa, dos jardins, enfim, há inúmeras
publicações que podem servir como treinamento para uma leitura mais
aprofundada.
2. A “leitura crítica”, em que se
lê fazendo indagações e investigações de natureza filosófica a todo momento:
por que o autor criou a personagem com tais características? Que quis ele
provocar no leitor ao escrever de tal maneira? Esse tipo de leitura, que também
pode ser chamada de investigativa, um pouco mais aprofundada que a anterior.
Aqui o leitor já tem de ter um pouco de domínio da própria leitura e de
“existência”. Os livros da época do Realismo, movimento literário do final do
século dezenove são ótimos exemplos, como os de Machado de Assis, no Brasil, e
Eça de Queirós, em Portugal.
3. A “leitura edificante”: As
personagens dos livros vivem a vida na história contada pelo autor de maneira
verossímil, ou seja, o que ocorre com elas pode ocorrer com qualquer um na vida
real. Podemos aprender nos romances como agir coerentemente diante das
situações que se nos apresentam, tomando como base a ação das personagens e as
consequências que advieram disso. Para essa leitura, todo romance serve; em
todos há personagens interagindo com outras e com a natureza. O que é preciso
aqui é um pouco de perspicácia do leitor, que sempre se deve colocar no lugar
da personagem e analisar se seria ou não uma boa atitude.
4. A “leitura filosófica”, em que
o autor se preocupa em ensinar a arte de bem viver. É a leitura de textos
filosóficos com a intenção de aprender a conviver melhor com os demais e de
alimentar o espírito com bons ensinamentos. Talvez seja a leitura mais
aprofundada, pois são textos filosóficos.
5. A “leitura-garimpo”: Um livro
inteiro pode não trazer ensinamento algum sobre relacionamentos ou sobre o
engrandecimento da vida, mas uma frase escrita à toa, uma única frase no livro
todo pode trazer um ensinamento valioso. O que o leitor tem de fazer é ler com
muita atenção e garimpar o que é interessante.
Não importa que tipo de leitura
seja o mais interessante; o que importa é o cidadão habituar-se a essa ação tão
gratificante. Boa leitura.
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