domingo, 18 de abril de 2010

Paralelismo

Segundo o "Dicionário Aurélio - Século XXI", paralelismo é "a estruturação semelhante de orações ou sintagmas em sequência", e sintagma é "o resultado da combinação de um determinante e de um determinado numa unidade linguística hierarquicamente mais alta, que pode ser uma palavra (p. ex.: vanglória, em que vã é determinante de glória), um constituinte de oração (p. ex.: As crianças pequenas choram, em que os adjuntos adnominais as e pequenas são determinantes de crianças), ou uma oração (p. ex.: O aluno aprendeu a lição, em que o predicado [aprendeu a lição] é determinante do sujeito [O aluno]).

Partindo dessas definições, chega-se à conclusão de que as frases de um texto bem estruturado têm de respeitar o paralelismo, ou seja, têm de ser estruturadas de tal maneira que as orações e seus termos sejam semelhantes, por isso, ao utilizar-se de elementos coordenados (elementos que exercem a mesma função sintática), eles devem pertencer à mesma classe gramatical.

Vejamos, como exemplo de paralelismo inadequado, trecho de um artigo jornalístico:

O consumo moderado de álcool, a abstinência de tabaco, a estabilidade de parceiros, o exercício físico, manter um peso adequado, ter uma atitude positiva diante dos problemas e atingir um bom nível de estudos são os sete fatores que predizem um envelhecimento saudável.

Qual o sujeito do verbo "ser" no texto acima? Descobre-se, perguntando:


Quais são os sete fatores que predizem um envelhecimento saudável?


Resposta: O consumo moderado de álcool, a abstinência de tabaco, a estabilidade de parceiros, o exercício físico, manter um peso adequado, ter uma atitude positiva diante dos problemas e atingir um bom nível de estudos.

Observe que os elementos coordenados desse sujeito são quatro substantivos (consumo, abstinência, estabilidade e exercício) e três verbos (manter, ter e atingir). Essa é a inadequação da frase. Esses elementos devem pertencer à mesma classe gramatical para se manter o paralelismo da oração: todos devem ser substantivos ou verbos. Adequando o paralelismo da frase, teremos as seguintes possibilidades:

O consumo moderado de álcool, a abstinência de tabaco, a estabilidade de parceiros, o exercício físico, a manutenção de um peso adequado, a posse de uma atitude positiva diante dos problemas e a obtenção de um bom nível de estudos são os sete fatores que predizem um envelhecimento saudável.

Consumir moderadamente álcool, abster-se de tabaco, estabilizar-se com um parceiro, exercitar-se fisicamente, manter um peso adequado, ter uma atitude positiva diante dos problemas e atingir um bom nível de estudos são os sete fatores que predizem um envelhecimento saudável.

Veja mais este exemplo:

O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática o que viu na teoria e que ele se comporta criteriosamente, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

Essa é uma frase em que o paralelismo está inadequado. Para comprovar isso, façamos a análise sintática do período:

Verbo prever:

Sujeito: Que é que prevê algo?
Resposta: O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário.

Tipo de verbo: Quem prevê, prevê algo - Verbo transitivo direto.
Objeto direto: aquilo que é previsto, e o que é previsto? A observação de duas coisas:

1- de sua capacidade de transferir para a prática o que viu na teoria
e
2- que ele se comporta criteriosamente, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

Essa é a falta de paralelismo. Há um substantivo (capacidade) e uma oração (que ele se comporta...). Outro problema existente é a falta da preposição "de" diante do segundo complemento de "observação", pois há a observação de algo.

Para adequar a frase quanto ao paralelismo, deve-se substitui o verbo "comportar" pelo substantivo "comportamento", colocando a preposição "de" antes deste. Deve-se, também, substituir o advérbio "criteriosamente", pois, como o verbo foi substituído por um substantivo, não se pode usar um advérbio, que modifica verbo, adjetivo ou outro advébio. Pode-se substituí-lo por uma oração: "se é criterioso", por exemplo.

O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática o que viu na teoria e de seu comportamento, se é criterioso, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

O problema dessa frase é que a preposição "de" ficou muito distante do substantivo "observação", deixando a frase "truncada". Se, porém, escrever esse substantivo, haverá a repetição dele na frase, o que também não é recomendável. O ideal, então, seria usar o pronome demonstrativo "a" no lugar de "observação", ficando assim a frase:

O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática o que viu na teoria e a de seu comportamento, se é criterioso, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

Melhor ainda se, em vez de usar a conjunção "e", forem usados elementos conectivos, como "não só ... mas também" ou "não só...como também":

O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê não só a observação de sua capacidade de transferir para a prática o que viu na teoria, como também a de seu comportamento, se é criterioso, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

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