terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Eu negocio ou Eu negoceio? - Reforma ortográfica

Segundo o acordo ortográfico, em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009, os verbos ligados a substantivos que tenham as terminações átonas ia, io admitem dupla grafia nas formas rizotônicas (Formas rizotônicas: eu, tu, ele e eles do presente do indicativo e do presente do subjuntivo):

Presente do indicativo: -io, -ias, -ia, -iam ou -eio, -eia, -eia, -eiam

Presente do subjuntivo: -ie,-ies, -ie, -iem ou –eie, -eies, -eie, -eiem

Por exemplo: negociar (verbo ligado ao substantivo negócio, terminado em io)

Presente do indicativo:

eu negocio, tu negocias, ele negocia, eles negociam.

ou

eu negoceio, tu negoceias, ele negoceia, eles negoceiam .

Presente do subjuntivo:

que eu negocie, que tu negocies, que ele negocie, que eles negociem

ou

que eu negoceie, que tu negoceies, que ele negoceie, que eles negoceiem

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Para nós, brasileiros, a segunda opção é bastante estranha. Certamente manteremos a pronúncia a que estamos acostumados. Imagine-se usando o verbo agoniar, que provém do substantivo agonia: Eu me agoneio. No mínimo estranho, não é mesmo?

8 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Pois é, professor, acho até um pouco engraçada essa situação; pois, com a reforma ortográfica, certas conjugações antes consideradas erradas hoje são corretas. Certa vez corrigi um amigo ao ouvi-lo conjugar o verbo copiar, que provém de cópia, na segunda opção, a qual hoje é correta: Eu copeio, tu copeias, etc. Hoje, não mais posso corrigi-lo, e acho que ele ainda não sabe disso. :D Eu, porém, prefiro usar a primeira opção: Eu copio, tu copias, etc.; Eu me agonio, tu te agonias, etc. Só imagino se alguém decide conjugar o verbo arrepiar, que provém de arrepio, na segunda opção: E me arrepeio, tu te arrepeias, etc., ou o verbo negligenciar, ligado ao substantivo negligência. Estranho demais! Ah, é claro que há exceções, não é mesmo? Verbos, como odiar, remediar e outros continuarão sendo usados na segunda opção, não é? Valeu, professor!

Miguel Cruz disse...

Prof. Dilson, por favor confirme-me que está correto "Eu Copeio" !!! Nunca ouvi tal coisa...

Dílson Catarino disse...

Segundo o Acordo Ortográfico, os verbos terminados em -iar que provêm de substantivos terminados em -ia ou -io que tenham a sílaba anterior a essas terminações tônica passam a ter dupla pronúncia: -io e -eio. O verbo copiar provém de cópia, portanto, absurdamente, pode-se dizer que ambas as formas passaram a ser adequadas: eu copio e eu copeio. Esta última, porém, será certamente descartada.
Já não é isso que acontece com arrepiar, pois a sílaba tônica de "arrepio" não é a anterior à terminação -io. Não há, portanto, dupla pronúncia para esse verbo.

Unknown disse...

Olá Professor,
Como é a análise sintática da frase:
"Bota na conta do papa".

Aguardo ansiosamente,
Obrigada

Dílson Catarino disse...

Telma,
Essa é uma construção coloquial, não adequada aos padrões cultos da língua, mas a análise sintática dela é a seguinte:
bota: verbo intransitivo
na conta do Papa: adjunto adverbial de lugar;
do Papa: adjunto adnominal indicador de posse.

quetrazalegria disse...

Professor fiquei confusa ! Pelo que entendi se uma questão de prova me apresentar como opção: Eu copeio, devo considerar como correta ? Ai, ai, ai ! E quanto a: Eu odio, remedio, incendio, medio, ansio. Por favor me esclaresça.

Anônimo disse...

Sem pretender "meter a foice em seara alheia", como se costuma dizer, gostaria de dar a minha simples opinião de "curioso" e interessado nas questões relacionadas com a Língua Portuguesa! Eu possuo um género de prontuário dos verbos, designado Larouse da Conjugação, da Porto Editora, sem o qual não consigo passar, e que portanto consulto amiudas vezes, em caso de dúvida... e tudo isto, sem prejuízo de valorizar naturalmente a palavra e saber do Professor Dílson Catarino, que naturalmente expõe a sua visão de forma muito competente e sábia!
Acontece portanto que, segundo o meu "prontuário", os verbos terminados em iar, podem seguir três exemplos de conjugações, ou seja a regular - que é a maioria - de que é exemplo o verbo enviar, e se conjuga como andar; a irregular que tem como exemplo o verbo odiar, e se conjuga segundo o modelo dos verbos em ear, de que é exemplo o verbo passear; e finalmente a que admite a forma regular e irregular, de que é exemplo o verbo comerciar, e que admite portanto as duas formas, como o exemplo de, comercio ou comerceio!
De resto, segundo parece, o Acordo Ortográfico não interfere em certos aspetos que têm a ver com os usos e costumes de linguagem de Portugal e Brasil, designadamente no aspeto sintático como no caso de "eu lavo-me" em Portugal, ou "eu me lavo" no Brasil!!!

Para uma explicação mais completa e cabal da matéria, em causa, segue o exemplo mais bem explicado e elaborado em baixo... de sábio autor!
Um abraço, e um fantástico ano de 2020
António

Os verbos terminados em -iar conjugam-se na sua grande maioria pelo paradigma mais regular da primeira conjugação, substituindo a terminação -ar pelas desinências verbais regulares (ex.: copiar conjuga-se exactamente com as mesmas terminações de andar: copio, copias; copie, copies). Há um pequeno grupo de verbos (como ansiar, incendiar, mediar, odiar e remediar) que se conjuga pelo padrão dos verbos em -ear (ex.: odiar conjuga-se com as mesmas terminações de passear nas 1.ª, 2.ª e 3.ª pessoas do singular e na 3.ª pessoa do plural presente do indicativo e do conjuntivo e no imperativo, havendo nas restantes formas apenas a substituição do -e- pelo -i-: odeio, odeias, odeie, odeies, odiava). Um outro grupo relativamente pequeno de verbos terminados em -iar (é o caso de negociar, mas também, por exemplo, de comerciar, diligenciar, licenciar, premiar, presenciar ou sentenciar, entre outros) admite a conjugação por ambos os paradigmas referidos (ex.: negocio/negoceio, negocias/negoceias; negocie/negoceie, negocies/negoceies). Esta particularidade do português europeu (no português do Brasil estes verbos conjugam-se em geral apenas pelo paradigma mais regular) é registada em alguns dicionários, gramáticas, prontuários e conjugadores de verbos, bem como em obras de referência importantes como o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves (Coimbra Editora, 1966) ou no Grande Vocabulário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (Âncora Editora, 2001).