terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Esquinas

Havia muito tempo eu não caminhava. Antigamente, em quase todos os finais de tarde, Teté e eu caminhávamos perto de casa – Zerão, barragem do igapó ou pela rua mesmo. Depois, comprei uma esteira e comecei a caminhar em casa. Fazia isso constantemente, ao som de Led Zepellin, Frank Zappa, Johnny Winter, Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers, entre outros. Mas, de repente, não sei por quê, parei de caminhar. Faz uns sete ou oito meses. Hoje, porém, resolvi andar um pouco. Aproveitei que teria de levar o carro de minha filha Luana ao Super Martelo, para desamassá-lo, e voltei a pé para casa; cinqüenta e cinco minutos de caminhada por algumas ruas londrinenses.

Fui acometido, durante esse tempo, por uma nostalgia que havia muito eu não sentia. Reconheci cada árvore, cada casa, cada esquina. Já passara muitas vezes por aqueles lugares na minha adolescência – e até quando adulto também. Andei pela Rua João XXIII, pelo Vale Verde, pelo Água Fresca, pela Rua Humaitá, pelo Zerão. Lugares por onde outrora eu andava quase todos os dias. E sempre que eu andava, contemplava com satisfação as árvores, os passarinhos, as ruas, as calçadas, a arquitetura dos edifícios, as pessoas. Acho que por isso que escrevia poesias todos os dias naquela época, e hoje, nada. Naquela época, havia deleite nas minhas andanças. Hoje ando de carro; não tenho tempo para olhar para as coisas; não tenho tempo para me admirar com nada. Naquela época, andava de casa até o centro (eu morava perto do Com Tour - 6 ou 7km), andava da UEL até minha casa, da UEL até o centro, da minha casa até a casa de Teté; andava de manhã, à tarde, de madrugada. Andava. Andava por prazer. Hoje não tenho tempo. Virei homem. Não no sentido viril, pois sempre fui isso, mas no sentido de experiência: homem x adolescente.

Na minha caminhada de hoje, porém, senti aquele prazer inefável novamente. Admirei-me de novo com a magnificência de flamboyants, santas-bárbaras, mangueiras e árvores cujos nomes desconheço; deletei-me com as casinhas antigas de madeira que ainda existem naquela região; senti saudades das repúblicas que por lá havia na década de oitenta e que deram lugar a construções mais modernas; regozijei-me com o traçado das ruas, antigas companheiras de profundas reflexões em minhas andanças noturnas daquela época. O que mais me comoveu, no entanto, foi a sensação que tive ao passar pela esquina das ruas Humaitá e Paranaguá. Lá, na calçada da Humaitá (para quem caminha pela Paranaguá, vindo da JK, e vira à direita), mais ou menos a dois passos do meio-fio da Paranaguá e a um passo do da Humaitá, é o exato local em que Teté e eu nos beijamos pela primeira vez. Era 05 de fevereiro de 1982, três dias antes de começarmos a namorar; aproximadamente 23h; talvez mais cedo, não me lembro desse detalhe. Mas foi lá. Isso eu sei com certeza; foi lá. Senti vontade de voltar lá com Teté qualquer dia desses e repetir o beijo. Quem sabe em alguma noite romântica não façamos isso.

Preciso voltar a caminhar para sentir isso mais vezes. Preciso de mais emoções como essas para sentir mais a vida. Às vezes, nos recolhemos demasiadamente e nos tornamos velhos. Quero envelhecer, sim, pois é tolice querer permanecer jovem, mas não quero me sentir velho, deteriorado, degenerado.

13 comentários:

Anônimo disse...

OLÁ SOU CONCURSEIRA E NÃO ESTAVA ACHANDO NADA TÃO BEM EXPLICADO SOBRE PARTÍCULA APASSIVADORA X INDICE DE DETERMINAÇÃO DO SUJEITO OBRIGADA POR ABRIR MINHA CABEÇA.
izabelgomes@gmail.com

Anônimo disse...

E os meus olhos encheram de lágrimas.
Longe de Londrina, senti-me passeando por onde você descreveu.

Aproveitando: cada vez que recebia boletins do UOL assinados por você, sentia-me com 16-17 na sala de aula do Maxi, além de orgulhosa por ter sido sua aluna!

(Ainda não gosta da expressão "minha mulher" para se referir à sua esposa? )
:D

Um abraço!

Dílson Catarino disse...

Olá, "Mãe Polenta",
Sempre me referirei à Teté como minha esposa.
Você escreveu que "recebia" os boletins. Não os recebe mais?
Fiquei muito feliz por seu comentário. Beijos e felicidades.

Anônimo disse...

Olá, professor Dílson!!!
Tudo bem? Espero que sim...
Estou deixando esse comentário na verdade para lhe fazer uma pergunta. Na frase: Fazia um calor imenso naquela tarde. O sujeito é simples ou é uma or. sem sujeito...
Desde já agradeço sua atenção.
Beijos e até mais. Laine...

Anônimo disse...

Deixo o meu e-mail
laine_britto@hotmail.com

Anônimo disse...

Díííííílson!!!
Tudo certinho aí professor?
Será que você ainda lembra de mim?
Hehehehe. Estou aproveitando as férias pra me acalmar e não ter que reclamar com o Augusto! Hehehehe.
Passei hoje aqui mas não foi pra ver matéria de prova, afinal, estou de férias!
Sempre tem uns textos legais misturados no meio das matérias!
Super emocionante o finalzinho! *_*

Saudades!
Beijos
Khaaarollzinha

Dílson Catarino disse...

Olá, Laine,
O verbo "fazer" não tem sujeito quando indicar fenômeno da natureza. É o caso da frase apresentada.

Olá, Carol,
Obrigado pela mensagem.

A. N. disse...

olá professor Dílson,

desculpe usar o seu blog para perguntas de gramática, mas essa dúvida tem me perseguido há algum tempo... apesar de usar a expressão "a longo prazo", o meu editor de textos (que teoricamente corrige gramática) insiste que o correto seria "em longo prazo". Ambos são corretos, ou apenas usando a preposição "em"?

Agradeço a atenção, me desculpando mais uma vez por utilizar esse espaço para uma pergunta, e não para realmente comentar um belo texto sobre essas caminhadas em que pode-se encontrar algumas coisas a mais do que apenas a si mesmo... Lembrei-me de um texto que escrevi em meu próprio blog:

http://aecioborba.blogspot.com/2007/10/caminanhando-em-cidades-diferentes.html

Abraços

Aecio

Lari Sigulo disse...

Adorei o texto professor!
Principalmente porque não dou muito
valor ao tempo que passo caminhando pela cidade e você me deu uma nova visão sobre ela.
Obrigada pelo apoio ao meu blog, fico muito feliz. Mas também fico triste por não ter suas aulas esse ano.
Vou ter saudade de suas aulas nas 2p5! =D
Beijo!!

Larissa.

Anônimo disse...

[...] Prof. Dilson Catarino - blog de dicas de Português do professor do Colégio Maxi. [...] em http://www.pevermelho.net/thiago/internet/mais-3-blogs-de-londrina/

Dílson Catarino disse...

Aécio,
Apesar de o dicionário Houaiss registrar somente a expressão "a longo prazo", ambas estão adequadas às normas cultas de nossa língua, ou seja, tanto se pode usar "a longo prazo" quanto "em longo prazo". Isso acontece também com outras expressões que indicam tempo, como em "Aos domingos, faço churrascos" ou "Nos domingos, faço churrascos". Ambas se equivalem.

Existe também a possibilidade de se usar a preposição "de" antes de "longo prazo", só que com outro significado. Por exemplo: "Taxa de juros de longo prazo".

Gustavo Henrique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Que lindo texto, professor!!
Volte naquela esquina com a Teté, hein????
Saudades das suas aulas!!
Luiza