segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os três mosqueteiros com quem é preciso falar para ser ouvido no governo de Lula.

Essa frase esteve na capa de uma das mais vendidas revistas semanais de informação do Brasil, veiculada há alguns anos. A inadequação gramatical da frase já foi objeto de estudo em uma de nossas colunas. Nunca é demais, porém, tratar desse assunto, tão complicado aos estudantes brasileiros. Trata-se do uso de pronomes relativos. Vamos a eles:

Pronomes relativos (que, quem, qual, onde, quanto e cujo) são elementos que retomam o vocábulo, a fim de evitar repetição. São usados em período composto, ou seja, em períodos com mais de um verbo.

Para montar uma frase com pronome relativo, deve-se construir a primeira oração até o elemento em repetição, colocar o pronome relativo para substituir a palavra que seria repetida e, enfim, terminar a primeira oração. Por exemplo:

Oração 1: Os documentos foram pedidos pelo diretor.
Oração 2: Os documentos desapareceram.


Passo 1: Constrói-se a primeira oração até o elemento em repetição: Os documentos...;

Passo 2: Coloca-se o pronome relativo imediatamente após esse elemento para substituir a palavra que seria repetida, juntamente com todos os termos que formam a oração: Os documentos que desapareceram...

Passo 3: Termina-se a primeira oração: Os documentos que desapareceram foram pedidos pelo diretor.

Mais exemplos:

Oração 1: Encontrei os livros na Livraria Boa Leitura.

Oração 2: Os livros serão lidos pelos alunos a partir de hoje à tarde.

Passo 1: Constrói-se a primeira oração até o elemento em repetição: Encontrei os livros...;

Passo 2: Coloca-se o pronome relativo imediatamente após esse elemento para substituir a palavra que seria repetida, juntamente com todos os termos que formam a oração: Encontrei os livros que serão lidos pelos alunos a partir de hoje à tarde...

Passo 3: Termina-se a primeira oração: Encontrei os livros que serão lidos pelos alunos a partir de hoje à tarde na Livraria Boa Leitura.

O aluno atento deve ter percebido a ambigüidade presente na frase formada. Tem-se a impressão de que os livros serão lidos na Livraria Boa Leitura, não é mesmo. Para evitar isso, pode-se colocar o termo na Livraria Boa Leitura depois do verbo encontrar: Encontrei, na Livraria Boa Leitura, os livros que serão lidos pelos alunos a partir de hoje à tarde.

Agora vejamos a frase da revista:

Oração 1: Eis os três mosqueteiros.

Oração 2 e 3: É preciso falar com os três mosqueteiros para ser ouvido no governo Lula.

Passo 1: Constrói-se a primeira oração até o elemento em repetição: Eis os três mosqueteiros...;

Passo 2: Coloca-se o pronome relativo imediatamente após esse elemento para substituir a palavra que seria repetida, juntamente com todos os termos que formam a oração: Eis os três mosqueteiros que é preciso falar para ser ouvido no governo Lula...

Perceba que a preposição com da frase original (falar com eles) desapareceu. Isso, porém, não poderia ocorrer. A preposição que desaparecer ao estruturar a frase com pronome relativo deve ser colocada imediatamente antes do pronome: Eis os três mosqueteiros com que é preciso falar para ser ouvido no governo Lula. Como se trata de pessoas, pode-se usar, no lugar de que, o pronome relativo quem: Eis os três mosqueteiros com quem é preciso falar para ser ouvido no governo Lula.


Passo 3: Terminar a primeira oração: Já está completa. A revista porém não apresentou a parte Eis os.... Retiremo-la, então: Os três mosqueteiros com quem é preciso falar para ser ouvido no governo Lula.

O período agora está montado. Depois disso, é necessário interpretar a frase para saber se há necessidade de usar vírgula. Se a oração iniciada pelo pronome relativo for restritiva não se devem usar vírgulas. Caso contrário, ou seja, se a oração não for restritiva, e sim explicativa, deve estar entre vírgulas. Veja este exemplo:

1) Os trabalhadores que estão em greve terão o salário reduzido.

2) Os trabalhadores, que estão em greve, terão o salário reduzido.

A diferença entre 1 e 2 é a seguinte:

Em 1, a oração iniciada pelo pronome relativo (que estão em greve) não está entre vírgulas, sendo, portanto, restritiva, ou seja, indica que há, no mínimo, dois tipos de trabalhadores: os que estão em greve e os que não estão, sendo que apenas os que estão em greve terão o salário reduzido.

Em 2, a oração iniciada pelo pronome relativo (que estão em greve) está entre vírgulas, sendo, portanto, explicativa, ou seja, indica que há apenas um tipo de trabalhador, que todos eles estão em greve e que todos eles terão o salário reduzido.

Mais um exemplo:

1) Os partidos que apóiam o Presidente participarão da reunião.

2) Os partidos, que apóiam o Presidente, participarão da reunião.

A diferença entre 1 e 2 é a seguinte:

Em 1, a oração iniciada pelo pronome relativo (que apóiam o Presidente) não está entre vírgulas, sendo, portanto, restritiva, ou seja, indica que há, no mínimo, dois tipos de partidos: os que apóiam o Presidente e os que não o apóiam, sendo que apenas os que o apóiam participarão da reunião.

Em 2, a oração iniciada pelo pronome relativo (que apóiam o Presidente) está entre vírgulas, sendo, portanto, explicativa, ou seja, indica que há apenas um tipo de partido, que todos eles apóiam o Presidente e que todos eles participarão da reunião.

A frase da revista tem a oração iniciada pelo pronome relativo sem vírgulas, indicando, então, que há, no mínimo, dois tipos de mosqueteiros: aqueles com quem é preciso falar e aqueles com quem não é preciso falar. Interpretando, porém, a frase, percebemos que há apenas um tipo de mosqueteiro: os únicos três mosqueteiros de Lula com quem é preciso falar, ou seja, não adianta falar com outras pessoas. A oração, portanto, deveria estar separada por vírgula, ficando assim estruturada:

Os três mosqueteiros, com quem é preciso falar para ser ouvido no governo de Lula.

Como a oração subordinada adjetiva está no fim da frase, substituímos a vírgula por ponto final.

Nenhum comentário: