sexta-feira, 8 de junho de 2007

Comentário acerca do livro O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler.

Lisboa, Páscoa de 1506. Na cidade assolada pela seca e pela peste, cerca de 2 mil cristãos-novos são perseguidos e mortos, tendo seus corpos queimados nas fogueiras que ardem no Largo do Rossio, no centro da capital portuguesa. Não bastassem esses horríveis acontecimentos, um misterioso crime vem abalar o pequeno círculo de iniciados da Cabala, que, secretamente, copiam, iluminam e contrabandeiam importantes manuscritos hebraicos.

Assim tem início o surpreendente livro de Richard Zimler, norte-americano radicado no Porto, que consegue combinar com enorme precisão os aspectos documentais da ficção histórica e o suspense eletrizante de um romance noir com doses elevadas da poderosa poesia do Antigo Testamento e de outros antigos textos judaicos.

Berequias Zarco é um jovem iluminador de manuscritos, aprendiz dos segredos do Torá e da Cabala, que deve pôr seus poderes à prova para descobrir as respostas a uma série de perguntas: quem teve a coragem de assassinar seu tio e mestre, o ultraconhecido cabalista Abrãao Zarco? Quem é a jovem que morreu nua a seu lado? Que revelações estariam contidas no manuscrito do tio, que desapareceu junto com o assassino?

Movendo-se com incrível habilidade pelo emaranhado de becos e ladeiras do Alfama, da Judiaria Pequena e de outros bairros de Lisboa, Berequias e seu amigo surdo-mudo, Farid, põem-se a vasculhar todos os recantos da cidade, na tentativa de colher pistas e vestígios para elucidar o crime, no qual parece estar cifrada, misticamente, a sorte dos judeus em Lisboa.
O resultado é um livro empolgante, que recupera com qualidade quase tátil a textura de sons, aromas e sabores da velha capital lisboeta e, ao mesmo tempo, transporta o leitor para um labirinto de espelhos, simetrias e coincidências, como se o mundo não passasse da miniatura de um outro manuscrito que também nós, leitores, precisamos aprender a decifrar.

É um excelente livro, principalmente aos jovens estudantes, pois, por intermédio dele, além de se deleitarem com uma leitura instigante, adquirem conhecimentos sobre aquele período negro da história portuguesa e mundial.

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